domingo, 2 de novembro de 2014

Entrevista ao missionário Francisco Machado

No dia 18 de outubro tivemos a honra de receber no nosso centro juvenil um missionário comboniano chamado Francisco Machado. Foi uma boa tarde diferente, com uma lição de vida e sobretudo com um caminho de fé. No final, a equipa de jornalismo entregou-lhe umas perguntas às quais ele prontamente respondeu. ´

Equipa Jornalismo: Onde esteve em missão?
Padre Francisco Machado: Quando completei os meus trinta anos de vida, depois dos meus estudos teológicos em Londres, Inglaterra e de uma breve experiência de trabalho em Lisboa, fui enviado para o Gana pelos Missionários Combonianos, família a que pertenço.

EJ: Quanto tempo esteve?
PFM: Sem qualquer margem de dúvida, hoje sinto no meu coração que foi uma das mais belas e maravilhosas experiências que um jovem pode sonhar e pela qual pode lutar. No Gana encontrei os povos Ewe, Akan e Fanti que me acolheram e com os quais partilhei 12 anos da minha juventude e talvez os momentos mais significativos e importantes de toda a minha vida.

EJ: O que fazia lá?
PFM: Estes povos que eu não conhecia mas que aprendi a amar e de quem faço parte como elemento integrante das suas famílias, ensinaram-me a ver, a abraçar e a viver a vida de uma forma diferente. Ensinaram-me a abrir o meu coração a acolher o outro e a ver a beleza e a verdade na diferença. Eu tinha plena consciência de que o missionário não é importante pelo que faz, mas sim pelo testemunho do amor de Jesus que é capaz de dar com a sua vida. Assim, a minha vida de Missionário não foi um dar e fazer tudo pelos outros, mas antes de tudo um compromisso exigente e criativo em aprender a abrir os meus olhos, os meus ouvidos e essencialmente o meu coração a fim de aprender a verdadeira ciência e o verdadeiro segredo da vida que se baseiam na abertura, no respeito, na descoberta e na partilha.

EJ: O que o levou a ser missionário?
PFM: O que me levou a fazer da minha vida uma aposta toral pelas missões foi o sentir o amor total de Jesus Cristo por mim e por toda a humanidade. A vocação missionária parece apresentar-se como um ideal muito longínquo e estranho aos ideais de vida dos jovens de hoje. No entanto, há muitos jovens que, abrindo-se à luz e beleza da Palavra de Deus, se deixam iluminar por Jesus Cristo e confortar pelo Seu amor e, assim, são capazes de abrir os seus olhos a horizontes mais abertos e atrativos, como a vida missionária que nos impele ao serviço dos mais pobres e abandonados. Estes jovens conseguem ver o ideal da vida missionária como um desafio bem concreto e digno a sair do seu egoísmo cego e mesquinho e a apostar numa vida de entrega total. Para muitos jovens uma dedicação total à missão é um verdadeiro caminho de felicidade e de realização pessoal. Isto não só porque consiste numa resposta pessoal e livre a um apelo que também é pessoal e livre do Deus da Vida e do Amor a partilhar a experiência maravilhosa, profunda dos valores propostos por Jesus Cristo. Ao mesmo tempo é uma maneira clara, exigente e válida de abrir o coração ao nosso mundo que procura ansiosamente novos caminhos de vida baseados na responsabilidade e na partilha. Por isto mesmo podemos afirmar com toda a convicção que vida missionário é um testemunho vivo dos valores da paz, justiça e integridade da Criação.

EJ: Concorda com a afirmação que um missionário recebe mais do que aquilo que dá? Porquê?
PFM: Sim, certamente que concordo. Não há qualquer dúvida de que o missionário só pode partilhar o que recebe de Deus pelos outros. O missionário primeiro acolhe a interpelação o convite de Jesus a deixar tudo e segui-lo. Depois deixa-se cativar pelo carinho e amor de Deus para com ele e para com a humanidade. E só depois de ver e experimentar como Deus é bom é que poderá partilhar a sua alegria de ser discípulo de Jesus com os outros, principalmente com aqueles que procuram um verdadeiro sentido para as suas vidas. 

EJ: Que experiência o marcou mais?
PFM: O que tem marcado decisivamente a minha vida missionária é a maravilha da procura do verdadeiro rosto de Deus e a alegria da resposta ao seu amor incondicional e gratuito por mim. Jesus tem-me dado uma verdadeira razão de viver que ilumina e da sentido ao meu viver e ao meu procurar ser feliz. É belo tomar consciência de que é Deus quem convida a deixar tudo e quem prepara as pessoas para se dedicarem ao Seu serviço numa dedicação humilde e sincera ao Seu Povo e a todos os seres humanos. É verdadeiramente estupendo ser colocado ao lado de pessoas que se disponibilizam a escutar a voz de Deus e a deixarem-se guiar por ela; este é um verdadeiro caminho de docilidade ao Espírito de Deus que se serve de pessoas frágeis para chamar e guiar pessoas para o Seu Serviço. O grande Mestre de toda a nossa vida é o Espírito Santo de Deus. É este mesmo Espírito que ajuda cada um de nós a reconhecer que nós não somos senhores da vida, não podemos nem devemos controlar tudo, como é a nossa tendência natural, mas sim, devemos aprender a ser apenas seus servidores – cultivar o respeito, trabalhar pela harmonia e abrir novos caminho à sua expressão cada vez mais livre e natural.

EJ: Que dificuldades encontrou?
PFM: Uma das maiores dificuldades e exigências na minha vida de missionário é o ter a docilidade e a disponibilidade para me adaptar à caminhada de cada pessoa na sua busca da vontade de Deus e na capacidade de responder com generosidade e confiança. Fui formador dos jovens seminaristas vários anos. Ser formador é aceitar e comprometer-se no desafio de fazer caminho comum. Caminhar com um ou vários jovens que sentem o apelo de Deus a estar com Ele e a deixarem-se transformar pela sua graça. Ou seja, acolhem o apelo de Deus a deixarem tudo e a colocarem-se na escola do Seu Espírito. Esta é uma tarefa muito especial. É como que o amigo que observa, escuta e acompanha, facilitando nos jovens o encontro de duas realidades: A dimensão da escuta “Falai, Senhor que o vosso servo escuta” e a dimensão da procura e da predisposição para acolher e realizar o Projecto de Vida, que Deus tem para cada um de nós: “Senhor que queres que eu faça.” O formador ajuda a descobrir e a reconhecer os sinais da presença de Deus. Um Deus que oferece um projeto tão exigente, como maravilhoso e fascinante: “Vai, vende tudo o que tens, dá aos pobres teus bens e, depois, segue-me.” É uma proposta com caminhos de vida bem definidos e concretos. Esta proposta de Jesus exige também uma opção consciente e livre que seja assumida com confiança, responsabilidade e alegria. Fazer caminho com jovens que não têm medo de entrar e arriscar neste processo de discernimento é o maior presente que uma pessoa pode receber da comunidade onde vive e do próprio Deus.

EJ: De que forma tentou superá-la?
PFM: Poderia concluir dizendo que sinto que a minha missão como formador só tem sentido se for vista no campo da amizade. Ser uma presença amiga que compreende, acolhe, ilumina, conforta e encoraja cada um dos jovens na sua procura e na sua resposta pessoal e livre ao Deus da vida e do amor. Só esta atitude atenta e disponível permite a cada jovem descobrir e cultivar a confiança suficiente que lhe facilitem abrir-se a caminhos sempre novos e ousados, dar asas à sua realização serena e motivadora dos seus sonhos. 

Fiquem bem, com D.Bosco e M.Mazzarello!

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