sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Dia de S. João Bosco - Mensagem do Reitor-Mor aos jovens



Olá pessoal!

Hoje é dia de S. João Bosco! E para o celebrar, o Reitor-Mor (sucessor de D. Bosco) nos tem algo a dizer hoje a nós jovens!

Meus muito amados jovens,

Não vos escondo a emoção ao dirigir-vos a minha última mensagem como Reitor-Mor. Gostaria que estas minhas palavras chegassem ao vosso coração para dizer-vos que vos amei e amarei sempre. Vocês estão no centro da minha vida, da minha oração e do meu trabalho. Vocês são a minha alegria e a fonte de inspiração e esperança para o presente e o futuro que o Senhor me reserva.
Obrigado pelo amor que sempre me demonstraram, pelas orações que me apoiaram nos momentos difíceis do meu delicado serviço. Neste momento, vejo os vossos rostos iluminados pela alegria de viver e de crer, mas também preocupados com um futuro incerto. Participei das esperanças e dos sofrimentos que lia no vosso olhar. Durante os 12 anos do meu belo serviço de Sucessor de Dom Bosco, vivemos juntos momentos inesquecíveis como as Jornadas Mundiais da Juventude em Sydney, Madrid e Rio de Janeiro; as diversas Assembleias do MJS das Inspetorias; os Encontros e CampoBosco no Colle Don Bosco ou em outros lugares. Foram tempos fortes do Espírito, experiências de comunhão e de espiritualidade salesiana, momentos de partilha e fraternidade que nos fizeram crescer no amor a Jesus, à Igreja e a Dom Bosco.
Obrigado, queridos jovens, pela presença reveladora do amor de Deus, pelo frescor e o entusiasmo que comunicaram nesses encontros, pela alegria que deram ao meu coração. Com um coração de pai continuarei a amar-vos e, por isso, quero convidar-vos a olhar o futuro com esperança. Deus não nos abandona e sempre nos dá grandes sinais do seu amor.

O Papa Francisco, sinal do amor de Deus pela sua Igreja

É com grande alegria e admiração de muitos que assistimos hoje ao anúncio de uma nova primavera para a Igreja e para o próprio mundo. Os profetas da desventura, que decretavam o inverno da Igreja, devem arrepender-se novamente. Este novo sopro de primavera, dom do Espírito Santo, tem um rosto e um coração, os do Papa Francisco. O seu modo de apresentar-se humilde, simples e sorridente revela a sua vida interior. Ele é um homem intensamente unificado com um ponto focal ao redor do qual se concentram gestos, atitudes e pensamentos: o Senhor Jesus, percebido sempre como Palavra de um Deus de bondade, de ternura, de misericórdia. Causa-nos intensa admiração a figura deste Papa tão doce e, ao mesmo tempo, homem-rocha, ancorado solidamente num ponto de enraizamento para o qual convergem a sua força moral, a liberdade de agir e falar, juntamente com um profetismo iluminador. O ponto unificador ao redor do qual se concentra toda a sua pessoa é, ao mesmo tempo, um grande sonho e um projeto de grande respiro.
Qual é o sonho que seduziu o Papa Francisco e que contagia e fascina tantos jovens? É uma Igreja livre da mundanidade espiritual, livre da tentação de fechar-se no seu quadro institucional, livre da tendência ao emburguesamento e do fechamento em si mesma, livre principalmente do clericalismo e do machismo. Uma Igreja incarnada neste mundo, resplandecente nos mais pobres e nos que sofrem. Uma casa aberta a toda a humanidade. No seu coração há o grande desejo de uma Igreja que acolha a todos, além das diversidades das culturas, das raças, das tradições, das confissões religiosas. Uma Igreja que saia às estradas para evangelizar e servir, chegando às periferias geográficas, culturais e existenciais. Uma Igreja pobre, que privilegie os pobres, sendo a voz deles, para superar a indiferença egoísta daqueles que têm muito e não sabem partilhar. Uma Igreja que dê a justa atenção e relevância às mulheres, sem as quais, ela mesma corre o risco da esterilidade.
O Papa Francisco vive com autêntica paixão a dedicação a este sonho que traz no coração e quer que todos os crentes, mas especialmente os jovens, vivam com igual intensidade a sua ousadia missionária. Vocês, jovens, são os protagonistas irrenunciáveis e determinantes desta nova primavera. Para sair da cultura do “descarte” que os marginaliza e paralisa deixando-os sem futuro, devem acender nos vossos corações o “fogo” de uma nova paixão para investir as energias e a própria vida; trata-se de empenhar-se nas causas nobres, positivas e de grande valor moral, pelas quais valha a pena gastar a vida. É o que lvos pede o Papa Francisco, o que vos pede Dom Bosco, o que eu vos peço nesta última mensagem, como um testamento espiritual a conservar ciosamente nos vossos corações e realizar nas vossas vidas. 

A vossa juventude, dom para entregar aos outros
Ao longo destes anos, convidei-vos a acolher a vossa juventude como o dom mais precioso e orientar a vossa vida segundo um projeto vocacional. Nos muitos rostos que encontrei, eu li a busca e o grande desejo de felicidade que se exprimia na alegria e na festa. A fé cristã é a resposta a esse desejo porque é anúncio de felicidade radical, promessa e entrega de “vida eterna”.
Apropriar-se da espiritualidade salesiana é penetrar no coração de Dom Bosco, onde compromisso e alegria caminham juntos, santidade e alegria formam um binómio inseparável. Desde o início do meu ministério eu propus-vos um itinerário de santidade simples, alegre e serena. A espiritualidade juvenil salesiana quer levar- -vos ao encontro com Jesus Cristo para estreitar com Ele uma relação de amizade e de confiança. Eu sempre vos indiquei a Igreja como o lugar escolhido e oferecido por Cristo para encontrá-lo e escutar a sua Palavra. Somente a sua presença discreta estimula a vossa liberdade na educação da mente, do coração e da vontade. A Ele basta um pequeno sinal de confiança para dizer com muita ternura: «Venham e fiquem comigo, vocês que estão sedentos de felicidade e com fome de coisas belas e verdadeiras que fazem a vida crescer. Vinde, vós que estais cansados, desencorajados, deprimidos. Vós, que sofreis no corpo, no espírito, no profundo do coração».
Queridos jovens, oiçam as palavras de Cristo que descem lentamente, consoladoras dentro de vós. Elas tornam-se na Eucaristia sangue que lhes dá vida nova, carne da vossa carne. É uma nova vida que se nutre de oração, de comunhão e de serviço. É uma nova vida percebida e vivida como vocação, como missão, como entrega fiel e disponibilidade total aos outros. Oiçam o acalorado apelo do Papa Francisco a toda a Igreja: «Vamos para fora, vamos para fora a fim de oferecer a todos a vida de Jesus Cristo!». Como resistir a este apelo? É um apelo que tem toda a intensidade e a paixão do «Da mihi animas!» de Dom Bosco. A vossa generosidade juvenil não pode senão estremecer e deixar-se sacudir por este grito, abandonando a fé tímida, paralisada pelo medo e pouco inclinada a testemunhar.
Vocês são chamados a viver uma fé que se manifesta como profecia, como certeza de serem amados por Deus ao ponto de depositar nele a única segurança que possuem. Em seu nome, podem arriscar tudo, sem se deixarem amedrontar por nada nem por ninguém, sem se deixarem condicionar por outras visões do mundo, sem se satisfazerem com uma vida medíocre.
O convite que o Papa Francisco vos lança, jovens, é para partir sem medo a fim de servir o mundo, e enriquecê-lo com o dom de Cristo e do Evangelho. A vós, ele confia a convicção da real possibilidade de mudar o mundo, porque Jesus Ressuscitado está connosco, todos os dias, até ao fim dos tempos, e renova todas as coisas: «Uma fé autêntica comporta sempre um profundo desejo de mudar o mundo, transmitir valores, deixar alguma coisa melhor depois da nossa passagem pela terra» (Evangelii Gaudium, 183).

Meus muito amados jovens,

Despedindo-me de vós, entrego-vos estas palavras que brotam do meu coração de pai. Eu sempre vos amei e continuarei a amar-vos, recordando-vos todos os dias ao amigo, meu e vosso, Jesus. Por isso, acredito poder fazer minhas as palavras do nosso amado Dom Bosco: «Até o último respiro de minha vida será para vós, meus queridos jovens». Peço-vos também a dádiva da vossa oração para que eu continue a servir a Igreja e a Família Salesiana com fidelidade e amor.

Confio-vos a Maria, nosso auxílio, modelo de santidade vivida com coerência e plenitude, estrela da nova evangelização. Ela vos acompanhe sempre com ternura de Mãe em todos os momentos da vossa vida. Que Ela vos auxilie a dar um belo testemunho de comunhão, de serviço, de fé ardente e generosa, de justiça e de amor pelos pobres, para que a alegria do Evangelho chegue a todos os jovens e nenhuma periferia fique sem a sua luz. 

Sempre vosso,

 P. Pascual Chávez V., SDB
Reitor-Mor

Valdocco, 31 de janeiro de 2014.

Fiquem bem, com D. Bosco e M. Mazzarello!

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Lema do ReitorMor - Parte IV



Olá pessoal!

Hoje publicamos a quarta parte do Lema do Reitor-Mor para este ano. É neste excerto que se encontra algo que nos diz respeito e que todos devemos ler com particular atenção: a espiritualidade juvenil salesiana. Enquanto membro do MJS deves perceber aquilo que te diferencia de outros jovens católicos, aquilo que te leva a afirmar "Eu pertenço ao MJS". Aqui vai!

3. Espiritualidade salesiana para todas vocações 

Se é verdade que a espiritualidade cristã tem elementos comuns e válidos para todas as vocações, também é verdade que ela é vivida com diferenças peculiares e específicas conforme o próprio estado de vida: o ministério presbiteral, a vida consagrada, os fiéis leigos, a família, os jovens, os idosos, … têm um modo típico de viver a experiência espiritual. O mesmo se diga da espiritualidade salesiana.

3.1. Espiritualidade comum para todos os grupos da Família Salesiana

Há elementos de espiritualidade comuns a todos os grupos da Família Salesiana; todos eles se inspiram em Dom Bosco, que é o fundador dos Salesianos, das Filhas de Maria Auxiliadora juntamente com Madre Mazzarello, dos Salesianos Cooperadores e da Associação de Maria Auxiliadora; os outros grupos referem-se aos seus próprios fundadores. Tais elementos estão concentrados na “Carta de Identidade da Família Salesiana”, a conhecer e a aprofundar, porque constitui a referência para a nossa espiritualidade de comunhão e para a nossa formação para a comunhão.
Os traços caraterísticos e reconhecidos por todos os seus grupos estão presentes sobretudo na terceira parte da “Carta de Identidade”. Eles dizem respeito à nossa vida de relação trinitária, à nossa referência a Dom Bosco, à comunhão para a missão, à espiritualidade do quotidiano, à contemplação operante a exemplo de Dom Bosco, à caridade apostólica dinâmica, à graça de unidade, à predileção pelos jovens e pelas camadas populares, à bondade (amorevolezza), ao otimismo e à alegria, ao trabalho e à temperança, à iniciativa e à maleabilidade, ao espírito de oração, à entrega a Maria Auxiliadora.
 Não esqueçamos que o Sistema Preventivo é uma expressão e tradução concreta desta espiritualidade comum. Ele liga-nos à alma, às atitudes e às opções evangélicas de Dom Bosco. A «genialidade» do seu espírito está ligada à atuação do Sistema Preventivo. Um sistema conseguido, que é modelo e inspiração para quantos hoje estão empenhados na educação nos diversos continentes, em contextos multiculturais  e plurirrelgiosos. Um modelo que pede a todos uma contínua reflexão para favorecer cada vez mais a centralidade dos jovens como destinatários e protagonistas da missão salesiana.

3.2. Epiritualidade própria da cada grupo da Família Salesiana 

Por outro lado, cada grupo da Família Salesiana tem elementos espirituais próprios. Legitimamente, pela sua origem e pelo seu desenvolvimento, os vários grupos têm uma história carterística e aspetos da espiritualidade comum que eles evidenciaram de modo particular ou outros que são originais. Tais elementos são a diferença específica de cada grupo; devem ser conhecidos e cosntituem uma riqueza para toda a Família mesma.
A variedade é um dom do Espírito, que não gosta da uniformidade e da homologação; todavia, as diferenças e as especificidades não devem tornar-se pretexto para divisões ou contraposições, mas devem enriquecer a todos e convergir na unidade, precisamente a comunhão a acolher como um dom e a realizar como tarefa. Tais elementos próprios estão presentes e especificados sobretudo nas Regras de vida, mas também nas tradições, dos vários grupos.

3.3. Espiritualidade juvenil salesiana 

No tempo desenvolveu-se também uma espiritualidade juvenil salesiana. Pensemos, além das três biografias dos jovens Miguel Magone, Domingos Sávio e Francisco Besucco, escritas por Dom Bosco, nas páginas que ele dirige através do «Jovem Instruído» aos jovens mesmos, nas “Companhias” queridas por Dom Bosco como momento de protagonismo espiritual e apostólico dos jovens mesmos, etc.
Seria interessante conhecer os desenvolvimentos da espiritualidade juvenil salesiana na nossa história e tradição, até chegar aos nossos dias, quando se fez a sua formulação autorizada e foi difundida entre os jovens também através do Movimento Juvenil Salesiano. A espiritualidade está na base do Movimento Juvenil Salesiano, que cresce com o empenhamento dos próprios jovens e que requereria o contributo de animação por parte dos vários grupos da Família Salesiana. O Movimento Juvenil Salesiano é, com efeito, uma oportunidade, um dom e um compromisso para todos os grupos da nossa família.
 A espiritualidade juvenil salesiana é uma espiritualidade adequada aos jovens; é vivida com e pelos jovens, pensada e realizada dentro da experiência do jovem. Procura gerar uma imagem de jovem cristão que possa ser proposta hoje a quem está inserido no nosso tempo e vive a condição juvenil hodierna; dirige-se a todos os jovens porque é feita à medida dos “mais pobres”, mas ao mesmo tempo é capaz de indicar metas àqueles que progridem mais; quer também tornar o jovem protagonista de propostas para os seus contemporâneos e para o ambiente.
Uma espiritualidade da vida quotidiana como lugar do encontro com Deus 

A espiritualidade juvenil salesiana considera a vida quotidiana como lugar de encontro com Deus. Na base desta avaliação positiva do quotidiano e da vida está a fé e a compreensão da Incarnação. Uma tal espiritualidade deixa-se conduzir pelo mistério que com a sua Incarnação, Morte Ressurreição afirma a sua presença, em toda a realidade humana, como presença de salvação.
O quotidiano do jovem é feito de dever, socialidade, jogo, tensão de crescimento, vida de família, desenvolvimento das próprias capacidades, perspetivas de futuro, exigências de intervenção, aspirações. Esta realidade é assumida, aprofundada e vivida à luz de Deus. Segundo Dom Bosco, para ser santo basta fazer bem aquilo que se deve fazer. Ele considera a fidelidade ao dever quotidiano como critério de avaliação da virtude e como sinal de maturidade espiritual.
Para que a vida quotidiana possa ser vivida como espiritualidade, é necessária a graça de unidade que ajuda a harmonizar as diversas dimensões da vida em torno de um coração habitado pelo Espírito Santo. Ela torna possível a conversão e a purificação; por meio da força do sacramento da Reconciliação, ela faz com que o jovem mantenha o coração livre, aberto a Deus e entregue aos irmãos.
Entre as atitudes e experiências do quotidiano a viver com profundidade no Espírito podem ser consideradas: a vida da própria família; o amor ao trabalho ou ao estudo, o crescimento cultural e a experiência escolar; a necessidade de conjugar as «experiências fortes» com os «caminhos quotidianos da vida»; a visão positiva e reflexiva em relação ao nosso tempo; o acolhimento responsável da própria vida e do próprio caminho espiritual de crescimento no esforço de cada dia; a capacidade de orientar a própria vida segundo um projeto vocacional.

Uma espiritualidade pascal da alegria e do otimismo 

A verdade decisiva da fé cristã é que o Senhor ressuscitou verdadeiramente! Por isso a vida definitiva com Deus é a nossa meta última e é também a nossa meta já desde agora porque se tornou realidade no corpo de Jesus Cristo. A espiritualidade juvenil salesiana é pascal e deixa-se invadir por este significado escatológico.
A tendência mais radicada no coração do jovem é o desejo e a busca da felicidade. A alegria é a expressão mais nobre da felicidade e, juntamente com a festa e com a esperança, é caraterística da espirtualidade salesiana. A fé cristã é um anúncio de felicidade radical, promessa e atribuição de «vida eterna». Estas realidades, porém, não são uma conquista, mas um dom a manifestar-nos que é Deus a fonte da verdadeira alegria e da esperança. Sem excluir o seu valor pedagógico, a alegria tem antes de tudo um valor teológico; Dom Bosco vê nela uma imprescindível manifestação da vida da graça.
Dom Bosco entendeu e fez compreender aos seus jovens que o dever e a alegria andam juntos, que a santidade e a alegria são um binómio inseparável. Dom Bosco é o santo da alegria de viver. Os seus jovens aprenderam tão bem a lição de vida que afirmavam, com linguagem tipicamente oratoriana, que «a santidade consiste em estar muito alegres». A espiritualidade juvenil salesiana propõe um caminho de santidade simples, alegre e serena.
A valorização da alegria como facto espiritual, fonte de empenhamento e sua consequência, pede que se favoreçam nos jovens algumas atitudes e experiências: um intenso ambiente de participação; relações sinceramente amigáveis e fraternas, com a experiência alegre do afeto às pessoas; as festas juvenis de livre expressão e os encontros entre grupos; a admiração e o gosto pelas alegrias que o Criador colocou no nosso caminho: a natureza, o silêncio, as realizações levadas a cabo juntos; a alegria exigente do sacrifício e da solidariedade; a graça de poder viver o sofrimento sob o signo e a consolação da Cruz de Cristo.

Uma espiritualidade da amizade e relação pessoal com o Senhor Jesus

A espiritualidade juvenil salesiana quer levar o jovem ao encontro com Jesus Cristo e tornar viável uma relação de amizade e de confiança com Ele, gerando um vínculo vital e uma adesão fiel. Muitos jovens nutrem um sincero desejo de conhecer Jesus e tentam responder às perguntas sobre o sentido da sua própria vida, às quais, todavia, só Deus sabe dar uma verdadeira resposta.
Amigo, Mestre e Salvador são as palavras que descrevem a centralidade da pessoa de Jesus na vida espiritual dos jovens. É interessante recordar que Jesus é apresentado por Dom Bosco como amigo dos jovens: «Os jovens são o encanto de Jesus», dizia-lhes; como mestre de vida e de sabedoria; como modelo de todo o cristão; como redentor que entrega a sua vida no amor até à morte pela salvação; como presente nos pequenos e nos pobres.
Para um caminho de conformidade com Cristo há algumas atitudes e experiências a desenvolver: a participação de fé na comunidade que vive da memória e da presença do Senhor e o celebra nos sacramentos da iniciação cristã; a pedagogia da santidade, que Dom Bosco mostrou na reconciliação com Deus e com os irmãos através do sacramento da Penitência; a aprendizagem da oração pessoal e comunitária, momentos privilegiados para crescer no amor e na relação pessoal com Jesus Cristo; o aprofundamento sistemático da fé, iluminada pela leitura e pela meditação da Palavra de Deus.

Uma espiritualidade de comunhão eclesial  

A experiência e inteligência adequada da Igreja é um dos pontos de discernimento da espiritualidade cristã. A Igreja é comunhão espiritual e comunidade que se torna visível através de gestos e convergências também operativas; é serviço aos homens, dos quais não se desliga como uma “seita” que apenas considera boas as obras que têm o sinal da sua própria pertença; é o lugar escolhido e oferecido por Cristo para poder encontrá-l’O. Ele confiou à Igreja a Palavra, o Batismo, o seu Corpo e o seu Sangue, a graça do perdão dos pecados e os outros Sacramentos, a experiência de comunhão e a força do Espírito, que movem à caridade para com os irmãos. A Família de Dom Bosco tem entre os tesouros de casa uma rica tradição de fidelidade filial ao Sucessor de Pedro, e de comunhão e colaboração com as Igrejas locais.
Precisamente por ser eclesial, a espiritualidade juvenil salesiana é uma espiritualidade mariana. Maria foi chamada por Deus Pai a ser, por graça do Espírito Santo, mãe do Verbo para depois O dar ao mundo. A Igreja contempla Maria como exemplo de fé; Dom Bosco fê-lo e somos chamados a fazê-lo também nós em comunhão com a Igreja. Maria é vista como Mãe de Deus e nossa Mãe; como a Imaculada, cheia de graça, totalmente disponível para Deus, e modelo de santidade de vida vivida com coerência e totalidade; como a Auxiliadora, auxílio dos cristãos na grande batalha da fé e da construção do Reino de Deus. Aquela que protege e guia a Igreja. Por isso Dom Bosco a considera “a Senhora dos tempos difíceis”, sustentáculo e apoio da fé e da Igreja. Em Maria Auxiliadora temos um modelo e uma guia para a nossa ação educativa e apostólica.
As atitudes e as experiências a criar são, portanto: o ambiente concreto da casa salesiana como lugar em que se experiementa uma imagem de Igreja fresca, simpática, ativa, capaz de responder às expetativas dos jovens; os grupos e sobretudo a comunidade educativa, que une os jovens e os educadores num ambiente de família em torno de um projeto de educação integral; participação na Igreja local, onde se ligam todos os esforços de fidelidade dos cristãos numa comunhão visível e num serviço percetível num território concreto; a estima e confiança na Igreja, percebida e vivida na relação de amor ao Papa; o amor, a admiração, o culto e a imitação de Maria Imaculada e Auxiliadora; o conhecimento dos Santos e das personalidade significativas do pensamento e das realizações cristãs nos diversos campos.

Uma espiritualidade do serviço responsável  

A vida assumida como encontro com Deus, o caminho de identificação com Cristo, a Igreja percebida como comunhão e serviço onde cada um tem o seu lugar e onde há necessidade dos dons de todos, fazem emergir e amadurecer uma convicção de que a vida traz em si uma vocação de serviço. Dom Bosco pedia aos seus jovens que se tornassem «bons cristãos e honestos cidadãos».
Dom Bosco, jovem e apóstolo, compreendeu e viveu a sua própria existência como vocação a partir do sonho dos nove anos. Responde com coração generoso a um convite: meter-se no meio dos jovens para os salvar. Dom Bosco convidava os seus jovens a um «exercício prático de amor ao próximo». A espiritualidade juvenil salesiana é uma espiritualidade apostólica por partir da convicção de que somos chamados a colaborar com Deus na sua missão, respondendo com entrega, fidelidade, confiança e disponibilidade total. Aos jovens são, portanto, propostas as vocações apostólicas e as vocações de especial consagração.
O serviço responsável comporta algumas atitudes e experiências a favorecer: abrir-se à realidade e ao contacto humano; promover a dignidade da pessoa e os seus direitos, em todos os contextos; viver com generosidade na família e preparar-se para a formar em bases de doação recíproca; favorecer a solidariedade, especialmente para com os mais pobres; desenvolver o próprio trabalho com honestidade e competência profissional; promover a justiça, a paz e o bem comum na política; respeitar a criação; favorecer a cultura; identificar o projeto de Deus na sua própria vida; amadurecer gradualmente opções progressivas e coerentes, como serviço à Igreja e aos homens; testemunhar a sua própria fé e concretizá-la nalgum âmbito, como a animação educativa, pastoral e cultural, o voluntariado e o compromisso missionário; conhecer e estar aberto às vocações de especial consagração.

3.4. Espiritualidade laical e Família Salesiana 

Os grupos da Família Salesiana envolvem numerosos leigos na sua missão. Estamos conscientes de que não pode haver um envolvimento pleno, se não houver também uma partilha do mesmo espírito. Comunicar a espiritualidade salesiana aos leigos corresponsáveis conosco da ação educativa pastoral torna-se um compromisso fundamental. Os Salesianos, em referência também a outros grupos da Família Salesiana, fizeram um trabalho explícito de formulação de uma espiritualidade laical salesiana no Capítulo Geral 24.  Certamente os grupos laicais da Família Salesiana, especialmente os Salesianos Cooperadores, os ex-Alunos e as ex-Alunas, constituem uma fonte de inspiração para tal espiritualidade.


Tendo-se tomado mais consciência de que não pode haver pastoral juvenil sem pastoral familiar, estamos a interrogar-nos sobre que espiritualidade familar salesiana elaborar e propor. Há experiências de famílias que se inspiram em Dom Bosco. Aqui o caminho está ainda no início, mas é uma via que nos ajuda a desempenhar a nossa missão popular, além da juvenil. É necessário promover a pastoral familiar e, portanto, partilhar experiências espirituais com as famílias, com os casais, com a preparação dos jovens para a família.

Fiquem bem, com D. Bosco e M. Mazzarello!

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Lema do Reitor-Mor - Parte III



Olá pessoal!

Aqui vai a terceira parte do lema do Reitor-mor!

2. Centro e síntese da espiritualidade salesiana: a caridade pastoral

Vimos anteriormente que “tipo” de pessoa espiritual era Dom Bosco: profundamente homem e totalmente aberto a Deus; harmonizando estas duas dimensões, viveu um projeto de vida assumido com decisão: o serviço aos jovens. Realça-o o padre Rua: «Não deu passo, não pronunciou palavra, nada empreendeu que não tivesse em mira a salvação da juventude».  Examinando o seu projeto para os jovens, vê-se que tem um “coração”, um elemento que lhe dá sentido, originalidade: «Realmente nada o preocupou senão as almas». 
Há, portanto, uma explicação posterior e concreta da unidade da sua vida: com a sua entrega aos jovens, Dom Bosco queria comunicar-lhes a experiência de Deus. Ele não tinha só generosidade ou filantropia, mas caridade pastoral. Esta é chamada «centro e síntese» do espírito salesiano. 
Centro e síntese é uma afirmação acertada e empenhativa. É mais fácil enumerar vários traços, mesmo fundamentais, da nossa espiritualidade, sem se aplicar a estabelecer entre eles uma relação ou uma jerarquia, do que selecionar um como principal. Neste caso é necessário entrar na alma de Dom Bosco ou do salesiano e descobrir aquilo que explica o seu estilo.
 Para compreender o que está incluído na caridade pastoral demos três passos: reflitamos primeiro sobre a caridade, depois sobre a especificação pastoral, e por fim sobre a cararterização salesiana da caridade pastoral.

2.1. Caridade 

Uma expressão de S. Francisco de Sales diz: «A pessoa é a perfeição do universo; o amor é a perfeição da pessoa; a caridade é a perfeição do amor».  Trata-se de uma visão universal que coloca em escala ascendente quatro modos de existir: o ser, o ser pessoa, o amor como forma superior a qualquer outra forma da pessoa, a caridade como expressão máxima do amor.
O amor representa o ponto máximo de chegada do amadurecimento de qualquer pessoa, cristã ou não. O compromisso educativo propõe-se levar a pessoa a ser capaz de se doar, a um amor de benevolência.
Os psicólogos, e não só Jesus Cristo, dizem que a personalidade completa e feliz é capaz de generosidade e desinteresse e chega a viver um amor que não seja apenas concupiscência, isto é, pela própria satisfação de ser amado. Diversas formas de neurose ou de perturbação da personalidade derivam de estar centrado sobre si e as respetivas terapias tendem todas a abrir e a descentrar em direção aos outros.
A caridade é, pois, a proposta principal de toda a espiritualidade: é não só o primeiro e principal mandamento e, portanto, o programa principal do caminho espiritual,  mas também a fonte de energia para progredir. Há sobre ela uma abundante reflexão sobretudo em S. Paulo (2 Cor 12, 13-14) e em S. João (1 Jo 4,7-21). Tomemos só alguns núcleos. 
O inflamar-se da caridade em nós é um mistério e uma graça; não provém da iniciativa humana, mas é participação na vida divina e efeito da presença do Espírito. Não poderíamos amar a Deus, se Ele não nos tivesse amado primeiro, fazendo-no-lo sentir e dando-nos o gosto e a inteligência para lhe corresponder. Nem poderíamos amar o próximo nem ver nele a imagem de Deus, se não tivéssemos a experiência pessoal do amor de Deus.
«O amor que Deus tem por nós difundiu-se nos nossos corações mediante o Espírito Santo que nos foi dado» (Rom 5,5). Por outro lado, também o amor humano não tem explicação racional, e por isso se diz que é cego. Ninguém consegue determinar com exatidão porque é que uma pessoa se apaixona por outra. 
Pela sua natureza de ser participação na vida divina e comunhão misteriosa com Deus, a caridade cria em nós a capacidade de descobrir e de perceber Deus: a religião sem a caridade afasta de Deus. O amor autêntico, mesmo só humano, leva os que andam afastados em direção à fé, ao ambiente religioso. A parábola do bom samaritano realça a relação religião-caridade com vantagem para esta última.
S. João reassumirá isto na sua primeira carta, escrevendo: «Caríssimos, amemo-nos uns aos outros, porque o amor vem de Deus, e todo aquele que ama nasceu de Deus e chega ao conhecimento de Deus. Aquele que não ama não chegou a conhecer a Deus, pois Deus é amor» (1 Jo 4,7-8). Em S. João o verbo conhecer significa fazer experiência, mais do que ter noções exatas: quem ama faz experiência de Deus.
Visto que a caridade é o dom que nos permite conhecer Deus por experiência, ela habilita-nos também a gozá-l’O na visão definitiva: «Agora, vemos como num espelho, de maneira confusa; depois, veremos face a face. Agora, conheço de modo imperfeito; depois, conhecerei como sou conhecido»(1 Cor 13,12) .
Por isso a caridade não é só uma virtude particular, mas a forma e a substância de todas as virtudes e daquilo que constitui e constrói a pessoa: «Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos… e tenha o dom da profecia… e distribua todos os meus bens aos pobres… e tenha tão grande fé que transporte montanhas, se não tiver amor, de nada me aproveita» (1 Cor 13,1-3).
Por isso a caridade e os seus frutos são realidades que perduram, resistem ao tempo: «O amor jamais passará. As profecias terão o seu fim, o dom das línguas terminará e a ciência vai ser inútil… Quando vier o que é perfeito, o que é imperfeito desaparecerá» (1 Cor 13,8-10). Isto aplica-se não só à vida, mas à nossa história. O que se edifica no amor permanece e constrói a nossa pessoa, a nossa comunidade, a nossa sociedade; enqunto que o que se funda e se constrói no ódio e no egoísmo desaparece. 
Por isso a caridade é o maior e a raiz de todos os carismas, através do qual se constrói e atua a Igreja. Precisamente depois de ter explicado a finalidade e o emprego dos diversos carismas, S. Paulo introduz o discurso da caridade com estas palavras: «Aspirai, porém, aos melhores dons. Aliás, vou mostrar-vos um caminho que ultrapassa todos os outros» (1 Cor 12,31).
É o carisma principal, mesmo quando se exprime em gestos quotidianos e nada tem de exraordinário e vistoso: «A caridade é paciente, a caridade  é prestável, não é invejosa, não é arrogante nem orgulhosa, nada faz de inconveniente, não procura o seu próprio interesse, não se irrita nem guarda ressentimento. Não se alegra com a injustiça, mas rejubila com a verdade. Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta» (1 Cor 13,4-7) .
Para Dom Bosco e Madre Mazzarello, como para todos os santos, a caridade é central. É a insistência principal da sua vida. Convém sabê-lo e dizê-lo. Com efeito, a cada passo algum membro da Família Salesiana faz experiência disso, descobre a importância da caridade num movimento eclesial, depois de ter vivido muitos anos na espiritualidade do nosso carisma salesiano. Parece que antes não ouviu falar disso com eficácia nem pôde vivê-lo com intensidade.
No sonho dos diamantes – que é uma parábola do espírito salesiano – a caridade é colocada na parte anterior e mesmo sobre o coração do personagem: «Três daqueles diamantes estavam no peito … naquele que se encontrava sobre o coração estava escrito: caridade».  Neste sonho o que é colocado na parte anterior do personagem é a parte fundamental do nosso espírito.
Além disso, a caridade é recomendada pelos nossos fundadores de múltiplas formas: como base da vida de comunidade, princípio pedagógico, fonte da piedade, condição do equilíbrio e da felicidade pesssoal, prática de virtudes específicas, como a amizade, a boa educação, a renúncia aos próprios interesses.
Aprender a amar, é a finalidade da vida consagrada, que não é senão “um caminho que começa no amor e conduz ao amor” .  O conjunto de práticas e disciplinas, de normas e de ensinamentos espirituais querem só uma coisa: tornar-nos capazes de acolher os outros e colocar-nos ao seu serviço com generosidade.

2.2. Caridade pastoral

A caridade pastoral tem muitas manifestações: o amor materno, o amor  conjugal, a beneficência, a compaixão, a misericórdia, o amor aos inimigos, o perdão. Na história da santidade tais manifestações cobrem todos os âmbitos da vida humana. Nós, Salesianos (SDB), e Filhas de Maria Auxiliadora (FMA), como em geral todos os grupos da Família Salesiana, falamos de uma caridade pastoral.
Esta expressão aparece muitas vezes nas Constituições ou estatutos dos vários grupos, documentos e discursos. O que significa caridade pastoral di-lo bem o Concílio Vaticano II quando, referindo-se àqueles que cuidam da educação para a fé, afirma: «É-lhes dada a graça sacramental, para que com a oração, o sacrifício e a pregação … exerçam um perfeito ministério de caridade pastoral: não temam, portanto, entregar a vida pelas suas ovelhas e, tornando-se modelo do rebanho, suscitem na Igreja também com o exemplo uma santidade cada vez maior». 
A palavra pastoral indica uma forma específica de caridade; recorda logo a figura do Jesus Bom Pastor.  Não só, todavia, as modalidades do seu agir: bondade, busca de quem se perdeu, diálogo, perdão; mas também e sobretudo a substância do seu ministério: revelar Deus a cada homem e a cada mulher. É mais que evidente a diferença de outras formas de caridade que dirigem atenção preferencial a especiais necessidades das pessoas: saúde, alimentação, trabalho.
O elemento típico da caridade pastoral é o anúncio do Evangelho, a educação à fé, a formação da comunidade cristã, a levedação evangélica do ambiente. Ela pede, portanto, disponibilidade plena e doação pela salvação do homem, tal como é apresentada por Jesus: de todos os homens, de cada homem, mesmo de um só. Dom Bosco, e depois dele a nossa família Salesiana, exprimem esta caridade com uma frase: Da mihi animas, cetera tolle.
As grandes Ordens e Congregações e as grandes correntes de espiritualidade condensaram o núcleo do seu próprio carisma numa frase breve: «Para a maior glória de Deus», dizem os jesuítas; «Paz e bem» é a saudação dos franciscanos; «Reza e trabalha» é o programa dos beneditinos; «Contemplar e entregar aos outros aquilo que se contempla» é a norma dos dominicanos. As testemunhas da primeira hora  e a reflexão posterior da Congregação levaram à convicção de que a expressão que reassume a espiritualidade salesiana é mesmo o Da mihi animas, cetera tolle.
Certamente a expressão repete-se com frequência nos lábios de Dom Bosco e influenciou a sua fisionomia espiritual. É a máxima que impressionou Domingos Sávio no gabinete de Dom Bosco ainda jovem sacerdote (34 anos) e o levou a fazer um comentário que se tornou famoso: “Compreendi que aqui não se faz negócio de dinheiro, mas de almas. Compreendi: espero que a minha alma também faça parte deste comércio».  Para este rapaz ficou claro, portanto, que Dom Bosco não lhe oferecia só instrução e casa, mas sobretudo uma oportunidade de crescimento espiritual.
A expressão foi recolhida na Liturgia: «Suscita também em nós a mesma caridade apostólica que nos leve a buscar as almas para Te servir, único e sumo bem»  . Era justo que assim fosse, dado que Dom Bosco tivera presente esta intenção na fundação das suas instituições: «O fim desta Sociedade, se o considerarmos nos seus membros, não é senão um convite a unir-se impulsionados pelo dito de S. Agostinho: divinorum divinissimum est in lucrum animarum operare». 

2.3. Caridade pastoral salesiana

Lê-se na história salesiana: «Na noite de 26 de janeiro de 1854, reunimo-nos nos aposentos de Dom Bosco e foi-nos proposto fazer, com a ajuda do Senhor e de S. Francisco de Sales, uma prova de exercício prático da caridade… Desde então doi dado o nome de salesianos àqueles que se propuseram ou virão a propor-se este exercício». 
Depois de Dom Bosco, os diversos Reitores-Mores, segundo testemunhas autorizadas, reafirmaram a mesma convição. É interessante o facto de todos o terem repetido com desvelo numa convergência que não deixa margem a dúvidas
O padre Miguel Rua pôde afirmar nos processos de beatificação e de canonização de Dom Bosco: «Deixou que outros acumulassem bens… e corressem atrás das honras; Dom Bosco realmente só se preocupou com as almas: disse com as obras e não só com as palavras: Da mihi animas, cetera tolle». 
O padre Paulo Albera, que teve uma longa experiência de vida e de familiaridade com Dom Bosco atesta: «O conceito animador de toda a sua vida era trabalhar pelas almas até à total imolação de si mesmo… Salvar as almas… foi, pode dizer-se, a única razão do seu existir». 
De forma mais incisiva, até porque realça as motivações profundas do agir de Dom Bosco, o padre Filipe Rinaldi vê no lema Da mihi animas «o segredo do seu amor, a força, o ardor da sua caridade».
Relativamente à consciência atual, depois do repensamento da vida salesiana à luz do Concílio, assim se exprime o Reitor-Mor padre Egídio Viganò: «A minha convicção é que não há nenhuma expressão sintética que qualifique melhor o espírito salesiano do que esta escolhida pelo próprio Dom Bosco: Da mihi animas, cetera tolle. Ela indica uma ardente união com Deus que nos faz penetrar no mistério da sua vida trinitária manifestada historicamente no envio do Filho e do Espírito como Amor infinito ad hominum salutem intentus». 
Donde vem e que significado pode ter hoje esta expressão ou lema? Digo hoje, quando a palavra alma não exprime nem evoca aquilo que reevocava em épocas precedentes.
Este lema de Dom Bosco encontra-se no Génesis, no capítulo 14,21. Quatro reis aliados fzem gurerra contra outros cinco, entre os quais se encontra o de Sodoma. Durante o saque da cidade cai prisioneiro também Lot, sobrinho de Abraão, com a sua família. Abraão é avisado. Parte com a sua tribo, depois de ter armado os homens. Derrota os predadores, recupera os despojos e resgata as pessoas. Então o rei de Sodoma, grato, diz-lhe: «Dá-me as pessoas, o resto é para ti». A presença de Melquisedeque, sacerdote cuja origem não se conhece, dá um sentido religioso particular e messiânico ao texto, sobretudo pela bênção que pronuncia sobre Abrão. Portanto, tudo, menos uma situação “espiritual”. No pedido do rei há, todavia, uma nítida distinção entre as “pessoas” e o “resto”, as coisas.
Dom Bosco dá à expressão uma interpretação pessoal dentro da visão religioso-cultural do século XIX. Alma indica a dimensão espiritual do homem, centro da sua liberdade e razão da sua dignidade, espaço da sua abertura a Deus. A expressão de Gen. 14,21 em Dom Bosco assume caraterísticas próprias, dado que faz do texto bíblico uma leitura acomodatícia, alegórica, jaculatória, eucológica: animas são os homens do seu tempo, são os rapazes concretos dos quais se ocupa; cetera tolle significa o desapego das coisas e das criaturas, um desapego que nele não é traduzível no sentido de aniquilamento de si, de aniquilamento em Deus, como por exemplo nos teólogos contemplativos ou místicos; nele o desapego é um estado de alma necessário para a mais absoluta liberdade e disponibilidade para as exigências do apostolado mesmo.
O entrelaçamento dos dois significados, o bíblico e o dado por Dom Bosco, aproximado da nossa cultura, indica opções muito concretas.
Em primeiro lugar, a caridade pastoral toma em consideração a pessoa e dirige-se a toda a pessoa; antes e sobretudo interessa a pessoa para desenvolver os seus recursos. Dare “coisas” vem depois; prestar um serviço está em função do crescimento da consciência e do sentido da própria dignidade.
Além disso, a caridade que diz respeito sobretudo à pessoa é guiada por uma “visão” da mesma. A pessoa não vive só de pão; tem necessidades imediatas, mas também necessidades infinitas. Deseja bens materiais, mas também valores espirituais. Segundo a expressão de Agostinho, «é feita para Deus, está sedenta d’Ele». Por isso a salvação que a caridade pastoral procura e oferece é plena e definitiva. Tudo o resto se orienta para ela: a beneficência para a educação; esta para a iniciação religiosa; a iniciação religiosa para a vida da graça e para a comunhão com Deus.
Por outras palavras, pode dizer-se que na nossa educação ou promoção damos a primazia à dimensão religiosa. Não por proselistismo, mas por estarmos convencidos de que ela constitui a nascente mais profunda do crescimento da pessoa. Num tempo de secularismo, esta orientação não é fácil de realizar.
A máxima da mihi animas contém também uma indicação de método: na formação ou regeneração da pessoa é necessário fazer força e reavivar as suas energias espirituais, a sua consciência moral, a sua abertura a Deus, o pensamento do seu destino eterno. A pedagogia de Dom Bosco é uma pedagogia da alma, do sobrenatural. Quando se começa a tocar este ponto começa o verdadeiro trabalho de educação. O outro é propedêutico ou preparatório.
Dom Bosco afirma-o com clareza na biografia de Miguel Magone. Este passa da rua para o Oratório. Sente-se contente e é, humanamente falando, um bom rapaz: é espontâneo e sincero, joga, estuda, faz amizades. Falta-lhe uma coisa: compreender a vida da graça, a relação com Deus, e empreendê-la. É religiosamente ignorante ou distraído.Tem uma crise de choro quando se compara com os companheiros e nota que lhe falta isto. Então Dom Bosco fala com ele. Desde aquele momento começa o caminho educativo descrito na biografia: desde a consciência e assunção da sua própria dimensão religioso-cristã.
Há, portanto, uma ascese para quem é movido pela caridade pastoral: Cetera tolle, «Deixa tudo o resto». Deve renunciar-se a muitas coisas para salvar a realidade principal; muitas atividades podem confiar-se a outros e até descurá-las, contanto que haja tempo e disponibilidade para abrir os jovens a Deus. E isto não só na vida pessoal, mas também nos programas e nas obras apostólicas.
«Quem percorre a vida de Dom Bosco, seguindo os seus esquemas mentais e as pistas do seu pensamento, encontra uma matriz: a salvação na Igreja Católica, única depositária dos meios salvíficos. Ele percebe o grito da juventude em debandada, pobre e abandonada, que suscita nele a urgência educativa de promover a inserção destes jovens no mundo e na Igreja mediante métodos de doçura e caridade; mas com uma tensão que tem a sua origem no desejo da salvação eterna do jovem». 

2.4. Síntese do percurso feito 

Como retomamos as ideias fundamentais da nossa reflexão.
• A nossa espiritualidade é apostólica: exprime-se e cresce no trabalho pastoral.
• O apostolado torna-se uma autêntica experiência espiritual, e não consumo de energias, stress e desgaste, se tiver como alma a caridade; esta dá facilidade, confiança, alegria no trabalho pastoral.
• A caridade realiza a unidade na nossa vida pessoal; supera as tensões  que surgem entre ação e oração, entre vida comunitária e compromisso apostólico, entre educação e evangelização, entre profissionalidade e apostolado.
• Todo o trabalho da nossa vida espiritual consiste em reavivar a caridade pastoral, purificá-la, intensificá-la: ama et fac quod vis.

Fiquem bem, com D. Bosco e M. Mazzarello!

sábado, 25 de janeiro de 2014

Lema do Reitor-Mor - Parte II



Olá pessoal!

Tal como prometido, aqui vai a segunda parte do Lema do Reitor-Mor!

1. Elementos da espiritualidade de Dom Bosco

Chegar a uma identificação precisa da espiritualidade de Dom Bosco não é tarefa fácil; não por nada, talvez seja este o aspeto menos aprofundado da sua figura. Dom Bosco é um homem todo voltado para o trabalho apostólico; não nos descreve as suas evoluções interiores, nem nos deixa reflexões particulares sobre a sua experiência espiritual. Não escreve diários espirituais nem oferece interpretações das suas vivências interiores; prefere transmitir um espírito descrevendo as vicissitudes da sua vida, ou através das biografias dos seus jovens. Não basta certamente dizer que a sua é uma espiritualidade apostólica de quem desenvolve uma pastoral ativa, uma pastoral de mediação entre uma espiritualidade douta e uma espiritualidade popular; é necessário identificar o núcleo da sua experiência espiritual.

Agora surge um problema sério: como investigar a espiritualidade de D. Bosco, dada a extrema escassez de fontes da sua vida interior? Deixemos que os teólogos de espiritualidade aprofundem esta temática metodológica e tentemos identificar alguns elementos fundamentais e caraterísticos da sua experiência espiritual.

A espiritualidade é um modo caraterístico de sentir a santidade cristã e de para ela tender; é um modo particular de ordenar a própria vida para adquirir a perfeição cristã e participar num especial carisma. Noutros termos, é a vida cristã, uma ação conjunta com Deus que pressupõe a fé.

A espiritualidade salesiana compõe-se de vários elementos: é um estilo de vida, trabalho, relações interpessoais; uma forma de vida comunitária; uma missão educativa pastoral na base de um património pedagógico; uma metologia formativa; um conjunto de valores e atitudes caraterísticos; uma peculair atenção à Igreja  e à sociedade através de setores específicos de compromisso; uma herança histórica de documentação e de escritos; uma linguagem caraterística; uma série típica de estruturas e de obras; um calendário de festas e de ocorrências próprias…

No quadro geral de referência da história da espiritualidade do século XIX,
explicitamos alguns elementos que nos parecem particularmente relevantes para descrever a experiência espiritual de Dom Bosco; são o seu ponto de partida, a sua raiz profunda, os seus instrumentos, o seu ponto de chegada.

1.1. Ponto de partida: a glória de Deus e a salvação das almas

A glória de Deus e a salvação das almas foram a paixão de Dom Bosco. Promover a glória de Deus e a salvação das almas equivale a conformar a própria vontade com a de Deus, que quer precisamente tanto a plena manifestação do bem que é Ele mesmo, ou seja, a sua glória, quanto a autêntica realização do bem do homem, que é a salvação da sua alma.

Num raro fragmento da sua “storia dell’anima”, Dom Bosco confessará (1854) o seu segredo acerca das finalidades da sua ação: «Quando me dediquei a esta parte do sagrado ministério entendi consagrar todas as minhas fadigas à maior glória de Deus e ao bem das almas, entendi empenhar-me em fazer bons cidadãos na terra, para que fossem depois um dia dignos habitantes do céu. Deus me ajude a poder continuar até ao último alento da minha vida. Assim seja». 

No mesmo texto, poucas linhas antes, tinha escrito:
«Ut filios Dei, qui erant dispersi, congregaret in unum. Joan. c. 11 v. 52. As palavras do santo Evangelho que nos dão a conhecer que o divino Salvador veio do céu à terra para congregar todos os filhos de Deus, dispersos pelas várias partes da terra, parecem-me poder aplicar-se literalmente à juventude dos nossos dias. Esta a porção mais delicada e mais preciosa da Sociedade humana, na qual se fundam as esperanças de um feliz futuro, não é por si mesma de índole perversa […] A dificuldade consiste em encontrar modo de os reunir, poder falar-lhes, moralizá-los. Esta foi a missão do Filho de Deus, isto somente a sua santa religião pode fazê-lo». 

Na base da opção de trabalhar no Oratório está a vontade salvífica de Deus, expressa na incarnação do Filho, enviado a reunir na unidade em torno de si os homens dispersos nos meandros do erro e pelos falsos caminhos da salvação. A Igreja é chamada a responder no tempo a tal divina missão de salvação. O Oratório insere-se, portanto, na economia da salvação; é uma resposta humana a uma vocação divina e não uma obra fundada na boa vontade de uma pessoa.

Em confirmação disto, lemos numa crónica de 16 de janeiro de 1861: «Instado a dar o seu parecer sobre o sistema da eficácia da graça, respondeu: estudei muito estas questões; mas o meu sistema é aquele que redunda na maior glória de Deus. Que me importa ter um sistema rigoroso e que depois leve uma alma para o inferno ou ter um sistema largo, contanto que leve almas para o Paraíso?» 

Análoga posição, em 16 de fevereiro de 1876, sobre o seu modo de proceder nas suas iniciativas: «Nós avançamos sempre pelo seguro; antes de empreendermos qualquer iniciativa, certificamo-nos de que é vontade de Deus que as coisas se façam. Começamos sempre as coisas com a certeza de que Deus as quer. Depois de ter esta certeza, avançamos. Poderão surgir mil dificuldades pelo caminho; não importa, esta é a vontade de Deus e nós enfrentamos com intrepidez qualquer dificuldade». 

Idênticas às finalidades do Oratório são as da «Obra dos Oratórios», quer dizer, da Sociedade Salesiana, do Instituto das Filhas de Maria Auxiliadora, dos Salesianos Cooperadores, da Associação dos Devotos de Maria Auxiliadora; todos são animados, motivados e movidos pelo mesmo escopo. Bastem poucas citações referentes aos Salesianos, entre as muitíssimas que poderiam aduzir-se.

Na introdução à primeira redação das Constituições, Dom Bosco afirmava que os primeiros colaboradores eclesiásticos se tinham associado com a «promessa de se ocupar apenas das coisas que o seu superior julgasse da maior glória de Deus e do bem da sua própria alma».  Repetia-se no capítulo seguinte sobre a finalidade da Sociedade: os Salesianos «esforçam-se por formar um só coração e uma só alma para amar e servir a Deus». 

Além disso, a 11 de junho de 1860, no pedido enviado ao Arcebispo de Turim para a aprovação das Constituições, lia-se: «nós, abaixo assinados, movidos unicamente pelo desejo de assegurar a nossa eterna salvação, unimo-nos a viver em comunidade a fim de mais facilmente podermos dedicar-nos às coisas que dizem respeito à glória de Deus e à salvação das almas».  Depois, a 12 de janeiro, escrevia ao card. Ferrieri que o objetivo da obra salesiana era sempre o mesmo: «Creio poder assegurar a V. Eminência que os Salesianos não têm outro fim senão trabalhar para a maior glória de Deus, para o bem da Igreja, difundir o Evangelho de Jesus Cristo entre os Índios Pampas e na Patagónia».  

De resto, Dom Bosco tinha já evidenciado a mesma finalidade da nascente Sociedade de S. Francisco de Sales, escrevendo, a 9 de junho de 1867, aos Salesianos na sua circular que precedeu de dois anos a aprovação da mesma Congregação: «Primeiro escopo da nossa Sociedade é a santificação dos seus membros […] Cada qual deve entrar na Sociedade guiado apenas pelo desejo de servir a Deus com maior perfeição, e de fazer bem a si mesmo, se quer fazer a si mesmo o verdadeiro bem é o bem espiritual e eterno». 

1.2. Raiz profunda: união com Deus 

O unum necessarium é a raiz profunda da sua vida interior, do seu diálogo com Deus, da sua operosidade de apóstolo. Não há dúvida que em Dom Bosco a santidade refulge nas suas obras, mas é certamente verdade que as obras são apenas uma expressão da sua fé. Não são as obras realizadas que fazem de Dom Bosco um santo, como recorda S. Paulo: «Ainda que eu fale as línguas dos homens… mas se não tiver caridade, de nada me serve» (1 Cor 13); mas é uma fé reavivada pela caridade operativa (cf. Gal 5,6b) que o faz santo: pelos frutos conhecereis as suas obras (cf. Mt 7,16.20).

À união com Deus, real e não só psicológica, são convidados todos os cristãos. União com Deus é viver a própria vida em Deus e na sua presença; é vida divina que está em nós por participação; é exercício da fé, esperança e caridade, em que às virtudes infusas se seguem necessariamente as virtudes morais, etc. Dom Bosco dá vigor evangélico à sua própria vida, faz da transmissão da fé em Deus a razão da sua própria vida, segundo a lógica das virtudes teologais: com uma fé que se torna sinal fascinante para os jovens, com uma esperança que se torna luminosa para eles, com uma caridade que se torna gesto de amor para com os últimos.

Dom Bosco foi sempre fiel à sua missão de caridade efetiva: ali onde um misticismo desencarnado se arriscaria a cortar os pontos de contacto com a realidade, a fé obrigou-o a permanecer na trincheira num ato de extrema fidelidade ao homem necessitado; ali onde podia surgir cansaço e resignação, sustentou-o a esperança; ali onde não parecia haver remédio, impeliu-o a agir a via indicada por Paulo: «Caritas Christi urget nos» (1 Cor 5,14). A caridade vivida por Dom Bosco não se detinha perante as dificuldades: «Fiz-me tudo para todos, para salvar alguns a qualquer custo» (1 Cor 9,22). Não havia que temer as derrotas no campo educativo, mas a inércia e o desleixo.

Viver a fé: significa abandonar-se com alegria confiadamente a Deus revelado em Jesus Cristo, de forma a ser capaz de viver todas as situações de modo salvífico: isto é, aceitar todas as circunstâncias da história de maneira a permitir que Deus nos manifeste a sua ação salvífica. Nenhuma situação corresponde de forma adequada à vontade de Deus, mas o homem pode viver cada situação de modo a cumprir sempre a vontade de Deus.
Viver a esperança: significa esperar Deus todos os dias para ser capaz de acolher o seu dom futuro; significa esperar Deus que vem todos os dias através de dons criados: cada dia tem o seu dom. Assim, em todas as situações, mesmo de falta: «nada poderá separar-nos do amor de Cristo» (Rom 8,39)

Viver a caridade: significa retribuir o presente espaço do amor de Deus. Para ser capazes de atitude oblativa, é necessário um exercício contínuo; requer-se um ambiente que seja estimulante: a missão salesiana é-o sem dúvida.

Tudo isto foi vivido por Dom Bosco em espírito de autêntica piedade. Ele não deixou formas de piedade, nem sequer uma sua devoção particular. A sua conceção é realista e prática. Só as orações do bom cristão, fáceis, simples, mas feitas com perseverança. Aquilo que Dom Bosco queria era que os salesianos consagrassem toda a sua vida à salvação das almas e santificassem o seu trabalho oferecendo-o a Deus; a oração devia intervir como elevação da alma a Deus, como petição e como alimento, noutras palavras, as “práticas de piedade” tinham uma espécie de função ascética. Os resultados deste exercício na vida de Dom Bosco estão perante os olhos de todos.

Ouçamos dois testemunhos. Eis o que um antigo aluno, de quarenta e cinco anos, militar e professor no exército, de Florença escreve a Dom Bosco em Turim:
«Meu querido Dom Bosco, parece ter razão em queixar-se de mim, é verdade, mas acredite mesmo que sempre o amei e amarei: em si encontro toda a consolação e admiro os seus feitos desde há muito; não falei nem permiti que alguém falasse mal de si; sempre o defendi. Vejo em si que dirigiria a minha alma em cada passo; fiquei confuso, estático, eletrizado nos seus raciocínios; foram fortes e sentidos: desconcertou-me e deixou-me deslumbrado ao ver que continua a amar-me sinceramente, sim, querido Dom Bosco. Creio na comunhão dos santos […]. Ninguém mais do que o senhor sabe e conhece o meu coração e poderá decidir. Por isso, termino, aconselhe-me, perdoe-me e recomende-me a Deus, a Maria  Santíssima… Envio-lhe um beijo do fundo do coração e faço profissão de fé que lhe quero bem…» 

O segundo testemunho é uma bem comovente página do santo Dom Orione aos seus clérigos em 1934, ano da canonização de Dom Bosco:
«Agora dir-vos-ei a razão, o motivo, a causa pela qual Dom Bosco se fez santo. Dom Bosco fez-se santo porque alimentou a sua vida de Deus, porque alimentou a nossa vida de Deus. Na sua escola aprendi que aquele santo não nos enchia a cabeça de parvoíces, ou de outra coisa, mas nos alimentava de Deus, e se alimentava a si mesmo de Deus, do espírito de Deus. Como a mãe se alimenta a si mesma para depois alimentar o seu próprio filho, assim Dom Bosco se alimentou a si mesmo de Deus, para nos alimentar de Deus também a nós. Por isso aqueles que conheceram o Santo, e que tiveram a enorme graça de crescer próximo dele, de escutar a sua palavra, de se abeirar dele, de viver de algum modo a vida do Santo, guardaram daquele contacto qualquer coisa que não é terreno, que não é humano; qualquer coisa que alimentava a sua vida de santo. E ele depois tudo retribuía ao céu, tudo retribuía a Deus, e de tudo tirava motivo para elevar as nossas almas para o céu, a fim de encaminhar os nossos passos para o céu».

Fiquem bem, com D. Bosco e M. Mazzarello!

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Laura Vicuña



Olá pessoal!

Hoje celebramos o dia de Laura Vicuña, um dos exemplos de santidade juvenil salesiana!

Laura Vicuña nasceu a 5 de Abril de 1891 em Santiago do Chile. Filha de um alto militar e chefe político José Domingo Vicuña e Mercedes Pinto.

O Chile estava em guerra civil na altura do seu nascimento, e com a queda do governo a família é obrigada a fugir para longe da cidade. O pai vem a falecer e deixa a família na miséria quando Laura tem apenas 2 anos.

A mãe, viúva com duas filhas, vai viver para a Argentinas e junta-se com um homem muito bruto e violento, Manuel Mora.

Em 1900, entra como interna do colégio das Irmãs Salesianas de Maria Auxiliadora em Junin de Los Andes na Argentina.

Enquanto se preparava para fazer a sua 1ª comunhão, toma conhecimento, nas aulas de moral, que a sua mãe vive contra a vontade de Deus, ou seja, em união de facto. Resolve então, no dia da sua primeira comunhão, oferecer a sua vida em sacrifício para a salvação da alma da sua mãe.

Depois de muita insistência, consegue finalmente ser admitida como “Filha de Maria” onde consagra a sua pureza à Santíssima Virgem.

Quando vai passar as férias do Natal a casa da mãe, Manuel Mora tenta abusar dela e, como não consegue, bate-lhe brutalmente. Esta vê-se obrigada a fugir, mas a sua saúde começa a debilitar-se.

Na sua agonia final, conta à mãe o seu sacrifício e obtém dela a promessa de deixar definitivamente aquele homem.

Laura Vicuña morre a 22 de Janeiro de 1904, com apenas 12 anos. A mãe, cumprindo a sua promessa consegue fugir daquela região.

Após muitos milagres por sua intercepção, Papa João Paulo II beatifica-a em 1988. Laura Vicuña torna-se a padroeira das vítimas de incesto e maus-tratos por parte dos pais.

Fiquem bem, com D. Bosco e M. Mazarello!

domingo, 19 de janeiro de 2014

Lema do Reitor-Mor - Parte I



Olá pessoal!

Tal como prometido, aqui vai a primeira parte do lema do Reitor-mor. É importante que o leias e que percebas quais os desafios que te são lançados!

Caríssimos irmãos e irmãs da Família Salesiana,

estamos a concluir o triénio de preparação para o Bicentenário do Nascimento de Dom Bosco. Após ter dedicado o primeiro ano a conhecer a sua figura histórica e o segundo a realçar os seus traços fisionómicos como educador e atualizar a sua práxis educativa, neste terceiro e último ano queremos ir à nascente do seu carisma, bebendo na sua espiritualidade.
A espiritualidade cristã tem como centro a caridade, ou seja, a vida mesma de Deus, que na sua realidade mais profunda é Agape, Caridade, Amor. A espiritualidade salesiana não é diferente da espiritualidade cristã; tamém está centrada na caridade; neste caso trata-se da caridade pastoral, ou seja aquela caridade que nos impele a buscar “a glória de Deus e a salvação das almas”. Caritas Christi urget nos.
Como todos os grandes santos fundadores, Dom Bosco viveu a vida cristã com uma ardente caridade e contemplou o Senhor Jesus de uma perspetiva particular, a do carisma que Deus lhe confiou, ou seja, a missão juvenil. A “caridade salesiana” é caridade pastoral, porque busca a salvação das almas, e é caridade educativa, porque encontra na educação o recurso que permite ajudar os jovens a desenvolver todas as suas energias de bem; deste modo os jovens podem crescer como honestos cidadãos, bons cristãos e futuros habitantes do céu.
Convido-vos, portanto, queridos membros da Família Salesiana, a beber nas nascentes da espiritualidade de Dom Bosco, isto é, na sua caridade educativa e pastoral. Ela tem o seu modelo em Cristo Bom Pastor; ela encontra a sua oração e o seu programa de vida no lema de Dom Bosco Da mihi animas, cetera tolle. Seguindo este caminho de aprofundamento, poderemos descobrir um “Dom Bosco místico”, cuja experiência espiritual serve de fundamento do nosso modo de viver hoje a espiritualidade salesiana, na diversidade das vocações que nele se inspiram; e poderemos nós mesmos fazer uma forte experiência espiritual salesiana.
Conhecer a vida de Dom Bosco e a sua pedagogia não significa ainda compreender o segredo mais profundo e a razão última da sua surpreendente atualidade. O conhecimento dos aspetos da vida de Dom Bosco, das suas atividades e mesmo do seu método educativo não basta. Na base de tudo, como nascente da fecundidade da sua ação e da sua atualidade, há alguma coisa que muitas vezes também nos escapa, a nós seus filhos e filhas: a profunda vida interior, aquilo a que poderia chamar-se a sua “familiaridade” com Deus. Quem sabe se não será mesmo isto o melhor que dele temos para o poder amar, invocar, imitar, seguir, a fim de encontrarmos o Senhor Jesus e de levarmos os jovens a encontrá-l’O.
Hoje poder-se-ia traçar o perfil espiritual de Dom Bosco partindo das impressões expressas pelos seus primeiros colaboradores. Poder-se-ia passar depois ao livro escrito pelo padre Eugenio Ceria, «Don Bosco con Dio», que foi a primeira tentativa de síntese a nível de divulgação da sua espiritualidade. Poder-se-iam confrontar, portanto, as várias releituras da experiência espiritual de Dom Bosco feitas pelos seus Sucessores, para chegar por fim às investigações que marcaram uma viragem no estudo do modo de viver a fé e a religião por parte de Dom Bosco mesmo.
Estes últimos estudos resultam mais fiéis às fontes; estão abertos à consideração das várias visões e das diversas figuras espirituais que tiveram influência em Dom Bosco ou que com ele contactaram: S. Francisco de Sales, S. Inácio, S. Afonso de Ligório, S. Vicente de Paulo, S. Filipe Neri, …; todavia estão também dispostos a reconhecer que, em todo o caso, a sua foi uma experiência original e genial. Seria interessante neste ponto ter um novo perfil espiritual de Dom Bosco, isto é, uma nova hagiografia, tal como hoje a teologia espiritual a entende.
O Dom Bosco “homem espiritual” fascinou e interessou Walter Nigg, pastor luterano e professor de História da Igreja na Universidade de Zurique; concentrou-se na sua fisionomia espiritual e escreveu assim: «Apresentar a sua figura subvalorizando o facto de nos encontrarmos perante um santo, seria como apresentar uma meia verdade. A categoria de santo deve ter prioridade sobre a de educador. Qualquer outra classificação falsearia a jerarquia dos valores. Por outro lado, o santo é o homem no qual o natural passa a ser sobrenatural, e o sobrenatural está presente em Dom Bosco em medida notável […] Para nós não há dúvida: o verdadeiro santo da Itália moderna é Dom Bosco».[1]
Nos mesmos anos oitenta do século passado, a opinião era compartilhada pelo teólogo P. Dominique Chenu O.P.; à pergunta de um jornalista que lhe pedia para indicar alguns santos portadores de uma mensagem de atualidade para os novos tempos, respondia: «Apraz-me recordar, antes de tudo, aquele que se antecipou de um século ao Concílio, Dom Bosco. Ele é já, profeticamente, um modelo de santidade pela sua obra, que rompe com um modo de pensar e de crer dos seus contemporâneos».
Em qualquer época e contexto cultural, trata-se de responder a estas peerguntas:
-       Que recebeu Dom Bosco do ambiente em que viveu?
-       Em que medida é devedor ao contexto, à família, à Igreja da época?
-       Como reagiu e que deu ao seu tempo e ao seu ambiente?
-       Como influenciou os tempos posteriores?
-       Como o viram os seus contemporâneos: salesianos, povo, Igreja, leigos?
-       Como o compreenderam as gerações seguintes?
-       Que aspetos da sua santidade nos parecem hoje mais interessantes?
Estas são as perguntas a que uma nova hagiografia de Dom Bosco deveria responder. Não se trata de chegar à identificação de um perfil de definitivo e sempre válido de Dom Bosco, mas de evidenciar um que seja adequado à nossa época. É evidente que de cada santo se sublinham os aspetos que interessam pela sua atualidade e se descuram aqueles que não se julgam necessários no próprio momento histórico ou se consideram irrelevantes para caraterizar a sua figura.
Os Santos, com efeito, são uma resposta às necessidades espirituais de uma geração, a ilsutração eminente daquilo que os cristãos de uma época entendem por santidade. Evidentemente a desejada imitação de um santo só pode ser “proporcional” à referência absoluta que é Jesus de Nazaré; com efeito cada cristão, no concreto da sua situação, é chamado a incarnar de modo próprio a figura universal de Jesus, sem obviamente a  esgotar. Os Santos oferecem um caminho concreto e válido para esta identificação com o Senhor Jesus.
No comentário ao Lema que proponho à Família Salesiana, serão estes os três conteúdos fundamentais que desenvolverei: elementos da espiritualidade de Dom Bosco; a caridade pastoral como centro e síntese da espiritualidade salesiana; a espiritualidade salesiana para todas as vocações. No fim dos mesmos apresentarei alguns compromissos concretos que aqui já antecipo na sua globalidade.

Fiquem bem, com D. Bosco e M. Mazzarello!


quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Visita do Grupo de Jovens de Canelas ao CJS



Olá pessoal!

No sábado passado, dia 4 de janeiro, o grupo do 10º ano do Grupo de Jovens de Canelas, juntamente com as suas catequistas, fizeram uma visita ao nosso Centro.

A tarde iniciou-se, como sempre, no nosso salão, com a boa-tarde. Este momento foi cuidadosamente preparado pelas catequistas Liane e Mónica, de Canelas, que nos ensinaram uma canção muito bem coreografada que aprenderam nas Jornadas Mundiais da Juventude 2013, no Brasil.


Na hora da catequese, o grupo do 10º ano de Canelas juntou-se aos grupos do 10º e de Crisma do nosso CJS. Serviu esta hora para os grupos se conhecerem melhor e partilharem experiências ao nível da sua caminhada de fé. Além disso, a Liane e a Mónica deram o seu testemunho relativamente à sua participação nas Jornadas Mundiais da Juventude 2013, no Brasil.



Na hora das atividades, os jovens do 10º ano de Canelas puderam escolher uma das atividades e, durante aquela hora, ficaram a saber um pouco mais acerca dos projetos que esse grupo estava a desenvolver.

A tarde terminou, como sempre, com a Eucaristia na qual todos participaram.

Foi, sem dúvida, uma boa experiência! Agora será a nossa vez de, um dia deste ano, visitar e conhecer um pouco melhor este Grupo de Jovens de Canelas.

Fiquem bem, com D. Bosco e M. Mazzarello!

sábado, 4 de janeiro de 2014

Animando do Mês - Janeiro


Nome: Ivan Pinto
Alcunha: não tem.
Aniversário: 31 de Julho
Idade: 15 anos
Ano de catequese: 10.º
Atividade: Ténis de Mesa

Porque razão andas no Centro Juvenil?
Porque é fixe e porque já experimentei noutro sítio. Além disso é perto de casa.

Banda/estilo de música favorito:
Todo o tipo de música.

Qual o último filme que viste? Dá a tua opinião.
American Pie porque é altamente.

Qual o último livro que leste? Dá a tua opinião.
Não leio.

Tens animais de estimação? Se sim, como se chamam?
Um cão chamado Zury e um papagaio chamado Calota.

Qual é a tua comida favorita?
Francesinha.

Qual a pessoa que mais admiras?
O meu pai.