quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Lema do ReitorMor - Parte IV



Olá pessoal!

Hoje publicamos a quarta parte do Lema do Reitor-Mor para este ano. É neste excerto que se encontra algo que nos diz respeito e que todos devemos ler com particular atenção: a espiritualidade juvenil salesiana. Enquanto membro do MJS deves perceber aquilo que te diferencia de outros jovens católicos, aquilo que te leva a afirmar "Eu pertenço ao MJS". Aqui vai!

3. Espiritualidade salesiana para todas vocações 

Se é verdade que a espiritualidade cristã tem elementos comuns e válidos para todas as vocações, também é verdade que ela é vivida com diferenças peculiares e específicas conforme o próprio estado de vida: o ministério presbiteral, a vida consagrada, os fiéis leigos, a família, os jovens, os idosos, … têm um modo típico de viver a experiência espiritual. O mesmo se diga da espiritualidade salesiana.

3.1. Espiritualidade comum para todos os grupos da Família Salesiana

Há elementos de espiritualidade comuns a todos os grupos da Família Salesiana; todos eles se inspiram em Dom Bosco, que é o fundador dos Salesianos, das Filhas de Maria Auxiliadora juntamente com Madre Mazzarello, dos Salesianos Cooperadores e da Associação de Maria Auxiliadora; os outros grupos referem-se aos seus próprios fundadores. Tais elementos estão concentrados na “Carta de Identidade da Família Salesiana”, a conhecer e a aprofundar, porque constitui a referência para a nossa espiritualidade de comunhão e para a nossa formação para a comunhão.
Os traços caraterísticos e reconhecidos por todos os seus grupos estão presentes sobretudo na terceira parte da “Carta de Identidade”. Eles dizem respeito à nossa vida de relação trinitária, à nossa referência a Dom Bosco, à comunhão para a missão, à espiritualidade do quotidiano, à contemplação operante a exemplo de Dom Bosco, à caridade apostólica dinâmica, à graça de unidade, à predileção pelos jovens e pelas camadas populares, à bondade (amorevolezza), ao otimismo e à alegria, ao trabalho e à temperança, à iniciativa e à maleabilidade, ao espírito de oração, à entrega a Maria Auxiliadora.
 Não esqueçamos que o Sistema Preventivo é uma expressão e tradução concreta desta espiritualidade comum. Ele liga-nos à alma, às atitudes e às opções evangélicas de Dom Bosco. A «genialidade» do seu espírito está ligada à atuação do Sistema Preventivo. Um sistema conseguido, que é modelo e inspiração para quantos hoje estão empenhados na educação nos diversos continentes, em contextos multiculturais  e plurirrelgiosos. Um modelo que pede a todos uma contínua reflexão para favorecer cada vez mais a centralidade dos jovens como destinatários e protagonistas da missão salesiana.

3.2. Epiritualidade própria da cada grupo da Família Salesiana 

Por outro lado, cada grupo da Família Salesiana tem elementos espirituais próprios. Legitimamente, pela sua origem e pelo seu desenvolvimento, os vários grupos têm uma história carterística e aspetos da espiritualidade comum que eles evidenciaram de modo particular ou outros que são originais. Tais elementos são a diferença específica de cada grupo; devem ser conhecidos e cosntituem uma riqueza para toda a Família mesma.
A variedade é um dom do Espírito, que não gosta da uniformidade e da homologação; todavia, as diferenças e as especificidades não devem tornar-se pretexto para divisões ou contraposições, mas devem enriquecer a todos e convergir na unidade, precisamente a comunhão a acolher como um dom e a realizar como tarefa. Tais elementos próprios estão presentes e especificados sobretudo nas Regras de vida, mas também nas tradições, dos vários grupos.

3.3. Espiritualidade juvenil salesiana 

No tempo desenvolveu-se também uma espiritualidade juvenil salesiana. Pensemos, além das três biografias dos jovens Miguel Magone, Domingos Sávio e Francisco Besucco, escritas por Dom Bosco, nas páginas que ele dirige através do «Jovem Instruído» aos jovens mesmos, nas “Companhias” queridas por Dom Bosco como momento de protagonismo espiritual e apostólico dos jovens mesmos, etc.
Seria interessante conhecer os desenvolvimentos da espiritualidade juvenil salesiana na nossa história e tradição, até chegar aos nossos dias, quando se fez a sua formulação autorizada e foi difundida entre os jovens também através do Movimento Juvenil Salesiano. A espiritualidade está na base do Movimento Juvenil Salesiano, que cresce com o empenhamento dos próprios jovens e que requereria o contributo de animação por parte dos vários grupos da Família Salesiana. O Movimento Juvenil Salesiano é, com efeito, uma oportunidade, um dom e um compromisso para todos os grupos da nossa família.
 A espiritualidade juvenil salesiana é uma espiritualidade adequada aos jovens; é vivida com e pelos jovens, pensada e realizada dentro da experiência do jovem. Procura gerar uma imagem de jovem cristão que possa ser proposta hoje a quem está inserido no nosso tempo e vive a condição juvenil hodierna; dirige-se a todos os jovens porque é feita à medida dos “mais pobres”, mas ao mesmo tempo é capaz de indicar metas àqueles que progridem mais; quer também tornar o jovem protagonista de propostas para os seus contemporâneos e para o ambiente.
Uma espiritualidade da vida quotidiana como lugar do encontro com Deus 

A espiritualidade juvenil salesiana considera a vida quotidiana como lugar de encontro com Deus. Na base desta avaliação positiva do quotidiano e da vida está a fé e a compreensão da Incarnação. Uma tal espiritualidade deixa-se conduzir pelo mistério que com a sua Incarnação, Morte Ressurreição afirma a sua presença, em toda a realidade humana, como presença de salvação.
O quotidiano do jovem é feito de dever, socialidade, jogo, tensão de crescimento, vida de família, desenvolvimento das próprias capacidades, perspetivas de futuro, exigências de intervenção, aspirações. Esta realidade é assumida, aprofundada e vivida à luz de Deus. Segundo Dom Bosco, para ser santo basta fazer bem aquilo que se deve fazer. Ele considera a fidelidade ao dever quotidiano como critério de avaliação da virtude e como sinal de maturidade espiritual.
Para que a vida quotidiana possa ser vivida como espiritualidade, é necessária a graça de unidade que ajuda a harmonizar as diversas dimensões da vida em torno de um coração habitado pelo Espírito Santo. Ela torna possível a conversão e a purificação; por meio da força do sacramento da Reconciliação, ela faz com que o jovem mantenha o coração livre, aberto a Deus e entregue aos irmãos.
Entre as atitudes e experiências do quotidiano a viver com profundidade no Espírito podem ser consideradas: a vida da própria família; o amor ao trabalho ou ao estudo, o crescimento cultural e a experiência escolar; a necessidade de conjugar as «experiências fortes» com os «caminhos quotidianos da vida»; a visão positiva e reflexiva em relação ao nosso tempo; o acolhimento responsável da própria vida e do próprio caminho espiritual de crescimento no esforço de cada dia; a capacidade de orientar a própria vida segundo um projeto vocacional.

Uma espiritualidade pascal da alegria e do otimismo 

A verdade decisiva da fé cristã é que o Senhor ressuscitou verdadeiramente! Por isso a vida definitiva com Deus é a nossa meta última e é também a nossa meta já desde agora porque se tornou realidade no corpo de Jesus Cristo. A espiritualidade juvenil salesiana é pascal e deixa-se invadir por este significado escatológico.
A tendência mais radicada no coração do jovem é o desejo e a busca da felicidade. A alegria é a expressão mais nobre da felicidade e, juntamente com a festa e com a esperança, é caraterística da espirtualidade salesiana. A fé cristã é um anúncio de felicidade radical, promessa e atribuição de «vida eterna». Estas realidades, porém, não são uma conquista, mas um dom a manifestar-nos que é Deus a fonte da verdadeira alegria e da esperança. Sem excluir o seu valor pedagógico, a alegria tem antes de tudo um valor teológico; Dom Bosco vê nela uma imprescindível manifestação da vida da graça.
Dom Bosco entendeu e fez compreender aos seus jovens que o dever e a alegria andam juntos, que a santidade e a alegria são um binómio inseparável. Dom Bosco é o santo da alegria de viver. Os seus jovens aprenderam tão bem a lição de vida que afirmavam, com linguagem tipicamente oratoriana, que «a santidade consiste em estar muito alegres». A espiritualidade juvenil salesiana propõe um caminho de santidade simples, alegre e serena.
A valorização da alegria como facto espiritual, fonte de empenhamento e sua consequência, pede que se favoreçam nos jovens algumas atitudes e experiências: um intenso ambiente de participação; relações sinceramente amigáveis e fraternas, com a experiência alegre do afeto às pessoas; as festas juvenis de livre expressão e os encontros entre grupos; a admiração e o gosto pelas alegrias que o Criador colocou no nosso caminho: a natureza, o silêncio, as realizações levadas a cabo juntos; a alegria exigente do sacrifício e da solidariedade; a graça de poder viver o sofrimento sob o signo e a consolação da Cruz de Cristo.

Uma espiritualidade da amizade e relação pessoal com o Senhor Jesus

A espiritualidade juvenil salesiana quer levar o jovem ao encontro com Jesus Cristo e tornar viável uma relação de amizade e de confiança com Ele, gerando um vínculo vital e uma adesão fiel. Muitos jovens nutrem um sincero desejo de conhecer Jesus e tentam responder às perguntas sobre o sentido da sua própria vida, às quais, todavia, só Deus sabe dar uma verdadeira resposta.
Amigo, Mestre e Salvador são as palavras que descrevem a centralidade da pessoa de Jesus na vida espiritual dos jovens. É interessante recordar que Jesus é apresentado por Dom Bosco como amigo dos jovens: «Os jovens são o encanto de Jesus», dizia-lhes; como mestre de vida e de sabedoria; como modelo de todo o cristão; como redentor que entrega a sua vida no amor até à morte pela salvação; como presente nos pequenos e nos pobres.
Para um caminho de conformidade com Cristo há algumas atitudes e experiências a desenvolver: a participação de fé na comunidade que vive da memória e da presença do Senhor e o celebra nos sacramentos da iniciação cristã; a pedagogia da santidade, que Dom Bosco mostrou na reconciliação com Deus e com os irmãos através do sacramento da Penitência; a aprendizagem da oração pessoal e comunitária, momentos privilegiados para crescer no amor e na relação pessoal com Jesus Cristo; o aprofundamento sistemático da fé, iluminada pela leitura e pela meditação da Palavra de Deus.

Uma espiritualidade de comunhão eclesial  

A experiência e inteligência adequada da Igreja é um dos pontos de discernimento da espiritualidade cristã. A Igreja é comunhão espiritual e comunidade que se torna visível através de gestos e convergências também operativas; é serviço aos homens, dos quais não se desliga como uma “seita” que apenas considera boas as obras que têm o sinal da sua própria pertença; é o lugar escolhido e oferecido por Cristo para poder encontrá-l’O. Ele confiou à Igreja a Palavra, o Batismo, o seu Corpo e o seu Sangue, a graça do perdão dos pecados e os outros Sacramentos, a experiência de comunhão e a força do Espírito, que movem à caridade para com os irmãos. A Família de Dom Bosco tem entre os tesouros de casa uma rica tradição de fidelidade filial ao Sucessor de Pedro, e de comunhão e colaboração com as Igrejas locais.
Precisamente por ser eclesial, a espiritualidade juvenil salesiana é uma espiritualidade mariana. Maria foi chamada por Deus Pai a ser, por graça do Espírito Santo, mãe do Verbo para depois O dar ao mundo. A Igreja contempla Maria como exemplo de fé; Dom Bosco fê-lo e somos chamados a fazê-lo também nós em comunhão com a Igreja. Maria é vista como Mãe de Deus e nossa Mãe; como a Imaculada, cheia de graça, totalmente disponível para Deus, e modelo de santidade de vida vivida com coerência e totalidade; como a Auxiliadora, auxílio dos cristãos na grande batalha da fé e da construção do Reino de Deus. Aquela que protege e guia a Igreja. Por isso Dom Bosco a considera “a Senhora dos tempos difíceis”, sustentáculo e apoio da fé e da Igreja. Em Maria Auxiliadora temos um modelo e uma guia para a nossa ação educativa e apostólica.
As atitudes e as experiências a criar são, portanto: o ambiente concreto da casa salesiana como lugar em que se experiementa uma imagem de Igreja fresca, simpática, ativa, capaz de responder às expetativas dos jovens; os grupos e sobretudo a comunidade educativa, que une os jovens e os educadores num ambiente de família em torno de um projeto de educação integral; participação na Igreja local, onde se ligam todos os esforços de fidelidade dos cristãos numa comunhão visível e num serviço percetível num território concreto; a estima e confiança na Igreja, percebida e vivida na relação de amor ao Papa; o amor, a admiração, o culto e a imitação de Maria Imaculada e Auxiliadora; o conhecimento dos Santos e das personalidade significativas do pensamento e das realizações cristãs nos diversos campos.

Uma espiritualidade do serviço responsável  

A vida assumida como encontro com Deus, o caminho de identificação com Cristo, a Igreja percebida como comunhão e serviço onde cada um tem o seu lugar e onde há necessidade dos dons de todos, fazem emergir e amadurecer uma convicção de que a vida traz em si uma vocação de serviço. Dom Bosco pedia aos seus jovens que se tornassem «bons cristãos e honestos cidadãos».
Dom Bosco, jovem e apóstolo, compreendeu e viveu a sua própria existência como vocação a partir do sonho dos nove anos. Responde com coração generoso a um convite: meter-se no meio dos jovens para os salvar. Dom Bosco convidava os seus jovens a um «exercício prático de amor ao próximo». A espiritualidade juvenil salesiana é uma espiritualidade apostólica por partir da convicção de que somos chamados a colaborar com Deus na sua missão, respondendo com entrega, fidelidade, confiança e disponibilidade total. Aos jovens são, portanto, propostas as vocações apostólicas e as vocações de especial consagração.
O serviço responsável comporta algumas atitudes e experiências a favorecer: abrir-se à realidade e ao contacto humano; promover a dignidade da pessoa e os seus direitos, em todos os contextos; viver com generosidade na família e preparar-se para a formar em bases de doação recíproca; favorecer a solidariedade, especialmente para com os mais pobres; desenvolver o próprio trabalho com honestidade e competência profissional; promover a justiça, a paz e o bem comum na política; respeitar a criação; favorecer a cultura; identificar o projeto de Deus na sua própria vida; amadurecer gradualmente opções progressivas e coerentes, como serviço à Igreja e aos homens; testemunhar a sua própria fé e concretizá-la nalgum âmbito, como a animação educativa, pastoral e cultural, o voluntariado e o compromisso missionário; conhecer e estar aberto às vocações de especial consagração.

3.4. Espiritualidade laical e Família Salesiana 

Os grupos da Família Salesiana envolvem numerosos leigos na sua missão. Estamos conscientes de que não pode haver um envolvimento pleno, se não houver também uma partilha do mesmo espírito. Comunicar a espiritualidade salesiana aos leigos corresponsáveis conosco da ação educativa pastoral torna-se um compromisso fundamental. Os Salesianos, em referência também a outros grupos da Família Salesiana, fizeram um trabalho explícito de formulação de uma espiritualidade laical salesiana no Capítulo Geral 24.  Certamente os grupos laicais da Família Salesiana, especialmente os Salesianos Cooperadores, os ex-Alunos e as ex-Alunas, constituem uma fonte de inspiração para tal espiritualidade.


Tendo-se tomado mais consciência de que não pode haver pastoral juvenil sem pastoral familiar, estamos a interrogar-nos sobre que espiritualidade familar salesiana elaborar e propor. Há experiências de famílias que se inspiram em Dom Bosco. Aqui o caminho está ainda no início, mas é uma via que nos ajuda a desempenhar a nossa missão popular, além da juvenil. É necessário promover a pastoral familiar e, portanto, partilhar experiências espirituais com as famílias, com os casais, com a preparação dos jovens para a família.

Fiquem bem, com D. Bosco e M. Mazzarello!

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