domingo, 19 de janeiro de 2014

Lema do Reitor-Mor - Parte I



Olá pessoal!

Tal como prometido, aqui vai a primeira parte do lema do Reitor-mor. É importante que o leias e que percebas quais os desafios que te são lançados!

Caríssimos irmãos e irmãs da Família Salesiana,

estamos a concluir o triénio de preparação para o Bicentenário do Nascimento de Dom Bosco. Após ter dedicado o primeiro ano a conhecer a sua figura histórica e o segundo a realçar os seus traços fisionómicos como educador e atualizar a sua práxis educativa, neste terceiro e último ano queremos ir à nascente do seu carisma, bebendo na sua espiritualidade.
A espiritualidade cristã tem como centro a caridade, ou seja, a vida mesma de Deus, que na sua realidade mais profunda é Agape, Caridade, Amor. A espiritualidade salesiana não é diferente da espiritualidade cristã; tamém está centrada na caridade; neste caso trata-se da caridade pastoral, ou seja aquela caridade que nos impele a buscar “a glória de Deus e a salvação das almas”. Caritas Christi urget nos.
Como todos os grandes santos fundadores, Dom Bosco viveu a vida cristã com uma ardente caridade e contemplou o Senhor Jesus de uma perspetiva particular, a do carisma que Deus lhe confiou, ou seja, a missão juvenil. A “caridade salesiana” é caridade pastoral, porque busca a salvação das almas, e é caridade educativa, porque encontra na educação o recurso que permite ajudar os jovens a desenvolver todas as suas energias de bem; deste modo os jovens podem crescer como honestos cidadãos, bons cristãos e futuros habitantes do céu.
Convido-vos, portanto, queridos membros da Família Salesiana, a beber nas nascentes da espiritualidade de Dom Bosco, isto é, na sua caridade educativa e pastoral. Ela tem o seu modelo em Cristo Bom Pastor; ela encontra a sua oração e o seu programa de vida no lema de Dom Bosco Da mihi animas, cetera tolle. Seguindo este caminho de aprofundamento, poderemos descobrir um “Dom Bosco místico”, cuja experiência espiritual serve de fundamento do nosso modo de viver hoje a espiritualidade salesiana, na diversidade das vocações que nele se inspiram; e poderemos nós mesmos fazer uma forte experiência espiritual salesiana.
Conhecer a vida de Dom Bosco e a sua pedagogia não significa ainda compreender o segredo mais profundo e a razão última da sua surpreendente atualidade. O conhecimento dos aspetos da vida de Dom Bosco, das suas atividades e mesmo do seu método educativo não basta. Na base de tudo, como nascente da fecundidade da sua ação e da sua atualidade, há alguma coisa que muitas vezes também nos escapa, a nós seus filhos e filhas: a profunda vida interior, aquilo a que poderia chamar-se a sua “familiaridade” com Deus. Quem sabe se não será mesmo isto o melhor que dele temos para o poder amar, invocar, imitar, seguir, a fim de encontrarmos o Senhor Jesus e de levarmos os jovens a encontrá-l’O.
Hoje poder-se-ia traçar o perfil espiritual de Dom Bosco partindo das impressões expressas pelos seus primeiros colaboradores. Poder-se-ia passar depois ao livro escrito pelo padre Eugenio Ceria, «Don Bosco con Dio», que foi a primeira tentativa de síntese a nível de divulgação da sua espiritualidade. Poder-se-iam confrontar, portanto, as várias releituras da experiência espiritual de Dom Bosco feitas pelos seus Sucessores, para chegar por fim às investigações que marcaram uma viragem no estudo do modo de viver a fé e a religião por parte de Dom Bosco mesmo.
Estes últimos estudos resultam mais fiéis às fontes; estão abertos à consideração das várias visões e das diversas figuras espirituais que tiveram influência em Dom Bosco ou que com ele contactaram: S. Francisco de Sales, S. Inácio, S. Afonso de Ligório, S. Vicente de Paulo, S. Filipe Neri, …; todavia estão também dispostos a reconhecer que, em todo o caso, a sua foi uma experiência original e genial. Seria interessante neste ponto ter um novo perfil espiritual de Dom Bosco, isto é, uma nova hagiografia, tal como hoje a teologia espiritual a entende.
O Dom Bosco “homem espiritual” fascinou e interessou Walter Nigg, pastor luterano e professor de História da Igreja na Universidade de Zurique; concentrou-se na sua fisionomia espiritual e escreveu assim: «Apresentar a sua figura subvalorizando o facto de nos encontrarmos perante um santo, seria como apresentar uma meia verdade. A categoria de santo deve ter prioridade sobre a de educador. Qualquer outra classificação falsearia a jerarquia dos valores. Por outro lado, o santo é o homem no qual o natural passa a ser sobrenatural, e o sobrenatural está presente em Dom Bosco em medida notável […] Para nós não há dúvida: o verdadeiro santo da Itália moderna é Dom Bosco».[1]
Nos mesmos anos oitenta do século passado, a opinião era compartilhada pelo teólogo P. Dominique Chenu O.P.; à pergunta de um jornalista que lhe pedia para indicar alguns santos portadores de uma mensagem de atualidade para os novos tempos, respondia: «Apraz-me recordar, antes de tudo, aquele que se antecipou de um século ao Concílio, Dom Bosco. Ele é já, profeticamente, um modelo de santidade pela sua obra, que rompe com um modo de pensar e de crer dos seus contemporâneos».
Em qualquer época e contexto cultural, trata-se de responder a estas peerguntas:
-       Que recebeu Dom Bosco do ambiente em que viveu?
-       Em que medida é devedor ao contexto, à família, à Igreja da época?
-       Como reagiu e que deu ao seu tempo e ao seu ambiente?
-       Como influenciou os tempos posteriores?
-       Como o viram os seus contemporâneos: salesianos, povo, Igreja, leigos?
-       Como o compreenderam as gerações seguintes?
-       Que aspetos da sua santidade nos parecem hoje mais interessantes?
Estas são as perguntas a que uma nova hagiografia de Dom Bosco deveria responder. Não se trata de chegar à identificação de um perfil de definitivo e sempre válido de Dom Bosco, mas de evidenciar um que seja adequado à nossa época. É evidente que de cada santo se sublinham os aspetos que interessam pela sua atualidade e se descuram aqueles que não se julgam necessários no próprio momento histórico ou se consideram irrelevantes para caraterizar a sua figura.
Os Santos, com efeito, são uma resposta às necessidades espirituais de uma geração, a ilsutração eminente daquilo que os cristãos de uma época entendem por santidade. Evidentemente a desejada imitação de um santo só pode ser “proporcional” à referência absoluta que é Jesus de Nazaré; com efeito cada cristão, no concreto da sua situação, é chamado a incarnar de modo próprio a figura universal de Jesus, sem obviamente a  esgotar. Os Santos oferecem um caminho concreto e válido para esta identificação com o Senhor Jesus.
No comentário ao Lema que proponho à Família Salesiana, serão estes os três conteúdos fundamentais que desenvolverei: elementos da espiritualidade de Dom Bosco; a caridade pastoral como centro e síntese da espiritualidade salesiana; a espiritualidade salesiana para todas as vocações. No fim dos mesmos apresentarei alguns compromissos concretos que aqui já antecipo na sua globalidade.

Fiquem bem, com D. Bosco e M. Mazzarello!


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