segunda-feira, 29 de março de 2010

Queremos ver Jesus - Parte IV

(Anterior - Parte III)

"Padre Pascual, o Reino de Deus não é para nós. É algo muito elevado e difícil"

Se Jesus te ama e te chama, tu podes levantar-te, podes caminhar! Podes mudar de direcção, iniciar um novo caminho. Basta saberes que és amado por Ele, sentires-te amado e quereres ser amado. Basta mudares os teus hábitos, repensar as tuas convicções. Assim fizeram os primeiros discípulos: chamados um a um pelo nome, eles seguiram-no sem demora.

Há na vida de todo homem um dia, uma hora que deixa uma lembrança inesquecível. É o momento em que acontece alguma coisa de novo, é o momento em que a vida muda radicalmente. "Era por volta das quatro horas da tarde", recorda João, quando encontraram Jesus.

Deus – e a Escritura dá-nos muitos testemunhos disso – faz as suas escolhas sem olhar para bens, dotes ou qualidade pessoais; antes, paradoxalmente, ele escolhe muitas vezes os mais fracos, os pobres, os ignorantes do mundo. Às vezes, ele chama de modo impetuoso, quase violento: é o caso de Paulo, lançado à terra na estrada de Damasco. Com frequência, porém, ele fá-lo de forma simples e persuasiva.

Na maioria das vezes, quando Deus quer chamar alguém, ele serve-se da mediação humana: o Baptista para André e João, André para o seu irmão Simão, Filipe para Natanael. Foi assim naquele tempo...! E hoje? Hoje, ele serve-se de mim para te chamar! Convido-te, pois, a conhecê-lo!

É verdade: não foi fácil para os discípulos entender a "lógica" do Mestre, mas afinal tomaram consciência de que fora dele não haveriam de encontrar palavras capazes de iluminá-los e dar forças para chegarem à plenitude de vida que Jesus lhes indicara.

E não só eles. Zaqueu, um publicano, isto é, colector de impostos, era um cobrador que recebia as taxas para os romanos. Aos olhos do povo, um "colaboracionista", um traidor, desprezado e odiado pelos judeus "verdadeiros". Pois bem, esse Zaqueu, traidor e desonesto, ouve dizer que Jesus está a entrar em Jericó. Tinha ouvido falar desse homem. Sente no seu interior uma forte atracção: gostaria de conhecer ou, ao menos, ver Jesus. Deixa a banca dos impostos e corre para onde a multidão se aglomera ao redor do Mestre. Há muita gente e ele, pequeno de estatura, mesmo saltando, não consegue ver realmente nada. Corre, então, mais à frente e sobe numa árvore. O rico, poderoso e certamente odiado Zaqueu, vai empoleirar-se entre os ramos de um sicómoro. Seu grande desejo fez com que deixasse a dignidade de lado e se tornasse ridículo aos olhos do povo. Todos riem dele; também Jesus deve ter sorrido, mas depois, perscrutando a fundo o seu coração, diz-lhe: "Zaqueu, desce daí, porque hoje devo ficar em tua casa". Zaqueu desce e corre para casa.

As autoridades religiosas de Jericó e os judeus tradicionalistas ficam aborrecidos, furiosos e ofendidos. Todos murmuram e dizem: "Foi à casa de um pecador!". Estão chocados e têm a impressão de nada entender. O mundo está revirado: o Messias na casa de pecadores!

Jesus, porém, sempre age assim. Revira o nosso mundo egoísta e hipócrita, baralha tudo e não se importa com a ordem constituída. Revolve os valores estabelecidos, para pôr em seu lugar uma ordem social inteiramente nova.

Jesus está na casa de Zaqueu e não lhe pede para deixar a mulher, ou vender a casa, ou distribuir os bens aos pobres e segui-lo. Só diz: "Hoje devo ficar contigo".

Os chamamentos de Jesus são de dois tipos. Ao jovem rico, ele diz: "Volta a tua casa, vende todos os teus bens e segue-me. Não leves bagagem, ela de nada te servirá, eu pensarei em ti. Eu serei o teu Bem". A Zaqueu, porém, diz: "Hoje devo ficar contigo". Este chamamento não é mais fácil do que o primeiro. De facto, transforma todo o modo de ser e viver de Zaqueu.

Quando Jesus diz querer viver connosco, e nós o recebemos em nossa casa, então muitas coisas mudam em nós e o nosso modo de viver se revoluciona. Quando acolhemos Jesus na nossa vida, Ele livra-nos de tudo o que não seja Deus.

Só uma coisa importa: acolhê-lo! Por isso, é preciso estar preparado e vigilante: no momento em que recebes o seu chamamento, tens a possibilidade de ser uma pessoa livre, capaz de dispores de ti mesmo para pores a tua vida ao serviço dele e dos outros.

(Continua - Parte V)

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